terça-feira, 2 de junho de 2020

O futebol de rua de ontem e de hoje

   Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica "Futebol de rua", define muito bem o que significa esse "tipo de esporte" muito praticado através dos tempos. Como o próprio autor diz, existe o futebol profissional; a "pelada", que é o futebol praticado em campinho ou terreno baldio; e existe o futebol de rua, mais simples que a própria pelada.
     E eu pratiquei muito esse "esporte radical", o qual tem suas regras próprias (em muitos casos ausência de regras mesmo). Por exemplo: os gols podem ser  representados com chinelos, tijolos, mochila, roupa embolada ou qualquer outra coisa que marque onde a bola vai passar (em casos mais modernos pequenas traves de madeira ou de ferro. Mas em casos raros!). Se não tiver bola, qualquer outra coisa esférica serve (ou nem tão esférica assim).
     No futebol de rua, o primo pobre da pelada, tem até gandula. Os que ficam esperando a próxima partida para jogarem são "acionados" para ficarem pegando a bola quando for preciso. No meu caso, os "próximas", como a gente chamava quem ficava aguardando, tinham mais trabalho, pois o nosso futebol de rua era praticado numa rua que ficava no alto, a Taufik Dib, no simpático local chamado Corcundinha,  no bairro de Campo Grande, onde morei com minha família por 27 anos. Nessa pequena elevação (não sei se o nome Corcundinha é mera coincidência) qualquer chute mais forte em direção ao gol, se o "próxima" não tivesse atento, a bola ia parar lá embaixo. Aproveitando a geografia do lugar, marcávamos os famosos "time contra", quando jogávamos contra  o "time de baixo" de um lado do morro, e o "time de baixo" da outra descida. E quando dois jogadores de times opostos chutavam juntos a bola e a mesma ia pra lateral? Ah, aí era fácil: "Bola estourada é da defesa!". Não podemos esquecer dos uniformes. No futebol de rua mais sofisticado, até existe algumas camisas de times. Mas nos mais tradicionais, é "time de camisa contra time sem camisa".
     A falta? Só se machucar o adversário, e mesmo assim se pede a falta com voz de brabo. Quem intimidar mais decide sobre a infração. O tempo pode ser "dez minutos ou dois gols", ou até a mãe de alguém arrastar um pra casa e um time ficar com menos um.
     E o grande problema é a reposição do tempo, pois  constantemente  a partida é paralisada para os automóveis e pedestres passarem (no caso de pedestres, só para os mais idosos. Os outros a gente pede pra subirem a calçada). 
     É comum também os inúmeros machucados no dedão do pé, pois a pelota rola no asfalto ou em terra batida, com os jogadores sempre descalços.
      Dentro do futebol de rua também já pratiquei "Futebol de calçada", fazendo muro do vizinho de gol, e até "torneios", no "um contra um", com o goleiro neutro.
     Com o passar do tempo, com o advento dos condomínios fechados e praças públicas, o clássico futebol de rua foi diminuindo (em alguns lugares quase desaparecendo), assim como a bola de gude, a "bandeirinha", o "queimado", entre outros.
     Mas, se organizássemos  um futebol de rua hoje, como seria a divisão dos times? Poderia ser "time de direita e time de esquerda?". Ah, será que poderia ser "time com máscara e sem máscara?". Quem sabe? Seria o futebol de rua moderno. 

Ilustração: Elder Veríssimo 

16 comentários:

  1. Excelente meu amigo, quanta saudade dessa época

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  2. Fantástico Eduardo é a cultura de campo grande viva, valeu amigo.

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    1. Isso aí, meu amigo. Grande abraço. Obrigado pela visita ao blog.

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  3. Quanta saudade do futebol de rua!!! Enrolavamos um monte de plástico que seria nossa bola durante os intervalos na escola!!! Rsrsrs... Boa recordação!!!

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    1. Rsrs. Tínhamos várias manhas pra jogar nosso futebol. Valeu, Adriano. Grande abraço.

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    1. Muito obrigado, meu amigo. Visite sempre o blog. Um grande abraço.

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  5. Cultural de primeira!
    Parabéns pela postagem!

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    1. Muito obrigado, meu amigo. Visite sempre o blog. Um grande abraço.

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    1. Valeu, Gilberto. Muito obrigado. Visite sempre o blog. Um grande abraço.

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  7. Rapaz, vejo que você era mesmo um especialista!
    De minha parte, se bem me lembro, o dedão do pé esquerdo e ambas as solas dos pés viviam prejudicados.
    Gratas lembranças, parabéns pelo texto.

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  8. Rapaz, vejo que és realmente um especialista!
    De minha parte, se bem me lembro, o dedão do pé esquerdo e ambas as solas dos pés viviam prejudicados.
    Gratas lembranças, parabéns pelo texto!

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  9. Na rua Afrânio Peixoto, a descida obrigava o cara de fora a ficar embaixo esperando a bola, Outros apitavam, sempre parciais, afinal eram interessados que alguém perdesse logo. O pior eram os dedos, sempre maltratados. Quando a bola caia na casa de uma vizinha chata, o futebol acabava.
    Ah! que saudade....Tinha mimimi não kkkk

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    1. Show de bola, Zé Carlos. Com certeza o futebol de rua desperta muitas saudades e nostalgia. Um grande abraço.

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