terça-feira, 24 de abril de 2018

A lenda do Vulcão do Mendanha

Ilustração: Wellington Mateus dos Santos Baldez
*História (ou conto) baseado na curiosidade de meu filho, Lucas Xavier, de 6 anos, sobre o suposto Vulcão do Mendanha.

    Era mais um dia comum no bairro de Campo Grande. Era mais uma manhã de sexta-feira. As pessoas indo para o trabalho, estudantes para a escola, automóveis num vaivém incessante. Enfim, mais um dia. Eis que, da Estrada do Mendanha, na altura do West Shopping, algumas pessoas começam a avistar algo de estranho, vindo da Serra do Mendanha. Uma nuvem cinzenta com lavas incandescentes preenchiam a paisagem daquele local. Logo as pessoas deram conta que se tratava do famoso vulcão do Mendanha ou Vulcão de Nova Iguaçu. O até então extinto e adormecido vulcão acabara de acordar, depois de milhões de anos.
    Em poucas horas, suas lavas de fogo desciam pela serra e chegavam à Avenida Brasil. O caos se instalara. O vulcão, depois de tanto tempo inativo, parecia que estava a fim de descontar o tempo perdido, liberando gases e explosões violentíssimas, apresentando até relâmpagos.
    O povo, na parte debaixo, ficara atordoado, vendo aquela cena. E agora? O que fazer? Afinal de contas, nem o Rio de Janeiro, nem o Brasil estão acostumados com esse tipo de evento.
    E a catástrofe continuava e avançava. A lava já corria em direção à Estrada do Mendanha. A vegetação facilmente pegava fogo, espalhando-se rápido com a ajuda do vento. O Corpo de Bombeiros fora acionado para, pelo menos, amenizar o problema. Pessoas desesperadas abandonavam seus carros e procuravam abrigo. Um povo, até então orgulhoso por não presenciar vulcanismo e terremotos de grande magnitude, atordoado observava o apocalipse de perto.
    O bairro, literalmente parado, só esperava o fim do espetáculo do Vesúvio tupiniquim. "Isto é só o fim", dizia um morador, com os olhos vermelhos, não se sabe de choro, aflição, fumaça ou tudo junto.
    Porém, no final daquele dia, o gigante despertado já dava sinais de cansaço, diminuindo suas atividades. No dia seguinte, já não havia quase nenhum vestígio de atividade vulcânica. Claro que ficaram o cheiro das cinzas e a paisagem devastada pelo fogo. Mas o vulcão, aparentemente, tinha voltado para seu estágio de sono eterno, ou próximo disso.
    Aos poucos, a população de Campo Grande e adjacências foi voltando à sua rotina, juntando os cacos, limpando aqui, removendo ali, tentando esquecer o Armagedom  que vivera um dia atrás.
    Mas, o que será que havia acontecido? O Brasil, geologicamente, não pode ter atividades vulcânicas, já que não está em encontro de placas tectônicas.
    O que sabe é que o bairro teve seu dia de Pompeia (com devidos exageros, é claro). Se existia alguma dúvida se o suposto Vulcão do Mendanha era mesmo um vulcão, não restava mais.
    É bom não duvidar de Hefesto, ou Vulcano, deus do fogo e do vulcão. Vai que ele resolve acordar de novo!

*Os exageros foram propositais.

Mapa da localização da cratera de vulcão do Mendanha (O Globo, Zona Oeste, 14 de agosto de 1988. p.9) - imagem retirada do livro Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos, de Fróes e Gelabert.

    Em 1938, Alberto Ribeiro Lamego descobriu vestígios de um suposto vulcão extinto em Campo Grande, na Serra do Mendanha. Lamego observou rochas de origem vulcânica e partes de relevo parecida com uma chaminé, que passou a ser conhecida como "a chaminé do Lamego".
    Em 1979, foi descobreto no município de Nova Iguaçu, um vulcão extinto.
    Após anos de debates, propagação da mídia defendendo a existência de um vulcão no Rio de Janeiro, geólogos e estudiosos do assunto chegaram a conclusão que não existe vulcão na região, apenas uma estrutura geológica externa que lembra um vulcão. Foi discutido que havia erupções vulcânicas explosivas nesta região, com formação de edifícios vulcânicos em tempos bem remotos, porém, com as transformações do tempo, erosão e soerguimento, houve uma mudança que eliminou completamente a morfologia e os depósitos eruptivos daquela era geológica.
    Assim, o que é fato é uma ausência de cratera, cone, bomba vulcânica e lava, consequentemente, inexistência de um vulcão extinto de fato, segundo os estudiosos do caso.