Com algumas prováveis datas de fundação ou surgimento, o bairro de Campo Grande passou de uma área tipicamente rural, até meados do século XX, para uma região marcada por um comércio forte, variedade de serviços, empreendimentos, construções e, consequentemente, trânsito caótico.
Alguns apontam o ano de 1603 como o de "fundação" do bairro, devido a distribuições de sesmarias; outros, o ano de 1673, devido à criação da capela do Desterro, ainda em terras do atual bairro de Bangu; e outros apontam 1757 como o ano de criação da Freguesia de Nossa senhora do Desterro de Campo Grande, dando início ao bairro. Não se tem uma conclusão sobre o assunto.
Em 1878, a estação de trem de Campo Grande foi inaugurada, passando a ligar o bairro a outras partes da cidade. Logo em seguida vieram os bondes. Em 1894, foram instaladas linhas de bondes de tração animal, ligando Campo Grande a Guaratiba, com, a princípio, a finalidade de transportar capim para os burros da empresa que recebera concessão para a instalação das linhas de bondes. Devido à solicitação de moradores, o transporte se estendeu aos passageiros. Em 1915, a tração animal foi substituída pela elétrica. Ainda em termos de transporte, mais tarde Campo Grande presenciaria o surgimento das chamadas Lotações.
Acima, primeira imagem. Vagão remanescente dos bondes. Fonte: Jornal Zona Oeste Especial, 1998)
Segunda foto. Lotação do sub bairro Magali, em Campo Grande. Fonte: Face Malu Ravagnani.
Voltando um pouco, em 1883 foi inaugurado o abastecimento de água em Campo Grande. O mesmo melhorou com a inauguração do reservatório Victor Konder, no Morro do Barata, em 1928. É bom lembrar que antes, a população da região se abastecia no "Arraial da Matriz", o poço Nossa Senhora do Desterro, junto à igreja principal. Já a luz elétrica foi fornecida às casas campograndenses por volta de 1917, com a iluminação pública sendo inaugurada em 1919.
Percebe-se que entre o final do século XIX e início do século XX, a região começa a receber melhorias e transformações em vários aspectos, que alteram o perfil da localidade e de sua população. Só pra ressaltar, Campo Grande, até aproximadamente 1908, era um povoado simples, com alguns caminhos e estradas de terras batidas, com os principais caminhos só sendo reconhecidos pelo município a partir de 30 de outubro de 1917.
Abaixo encontra-se uma planta do bairro do ano de 1906, com Campo Grande começando a buscar uma estruturação que atendesse o aumento de sua população e do comércio.
Fonte: prefeitura do Distrito Federal, Censo, 1906.
Números da planta: 1: Estação ferroviária Central do Brasil.
2: Rua Coronel Agostinho (atual calçadão de Campo Grande)
3: Estrada de Santa Cruz (mais tarde Avenida Cesário de Melo)
4: Rua Marcolina
5: Estrada Rio do A
6: Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro
Abaixo, primeira estação de trem de Campo Grande, construída logo que foi criado o ramal para o Curato de Santa Cruz, inaugurada em 2 de dezembro de 1878. Se observarmos bem, é possível perceber, à esquerda, a antiga passagem de nível que ligava a Rua Barcelos Domingos à Praça 3 de Maio, atual Praça Raul Boaventura.
Fonte: Jornal Zona Oeste, Edição Especial, n°857, 1992. Retirada do livro "Rumo ao campo Grande por trilhas e caminhos", de José Nazareth de Souza Fróes e Odaléa Ranauro Enseñat Gelabert. Rio de Janeiro - 2005.
Já na década de 1920, o bairro entraria no "período" das laranjas, sendo uma das maiores regiões produtoras da fruta em todo o estado do Rio. Porém, com o fim do ciclo das laranjas, praticamente na metade do século XX, Campo Grande inicia uma relevante metamorfose em sua estrutura.
Em 1963 é inaugurado o Mercado São Brás (grafia da época), atuando inicialmente como uma feira, e mais tarde tomando uma forma mais comercial. Em 1976 foi inaugurado o Calçadão de Campo Grande, na Rua Coronel Agostinho, fazendo do local o centro econômico e comercial de Campo Grande. Voltando à década de 1960, a Avenida Brasil chegaria à região, ao mesmo tempo que surgiam também grandes loteamentos no lugar das plantações, e uma certa orientação do governo em "promover" o aumento populacional da Zona Oeste, porém sem infraestrutura na mesma proporção. Isso tudo ajudou na alteração do perfil da região.
Daí em diante vieram as indústrias, destacando-se o Distrito Industrial de Campo Grande, criado em 1975; os bancos, as faculdades, entre outros serviços e, já no século XXI, o aumento considerável dos empreendimentos, habitações e prédios comerciais e de serviços, além de um espantoso surgimento de inúmeros estacionamentos, com alguns, inclusive, substituindo importantes instituições, como é o caso do extinto Colégio Belisário dos Santos, na Rua Augusto Vasconcelos.
Fonte: Internet
E assim Campo Grande continua seu processo de evolução (transformação) espacial, econômica e populacional, com algumas coisas indo (Luso Brasileiro, na estrada do Campinho, por exemplo) e outras chegando (condomínios, em seu lugar), concluindo que o espaço é dinâmico, tendo relação direta com a sociedade, sendo assim um produto social, resultado de ações acumuladas através dos tempos, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço.
Fontes pesquisadas:
SOUZA, Carlos Eduardo. "A evolução econômica e populacional de Campo Grande - Século XX". Rio de Janeiro. Edital. 2015, 1° edição.
FRÓES, José Nazareth, GELABERT, Odaléa Ranauro. "Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos. Rio de Janeiro. 2004.
Obrigado por nos enriquecer com mais informações sobre Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
ResponderExcluirMeu caro amigo Will, receber um elogio de uma pessoa tão rica de cultura como você é um privilégio. Obrigado mais uma vez pela visita ao blog. Um grande abraço.
ExcluirObrigado Professor
ResponderExcluirDe nada. E obrigado pela visita ao blog.
ExcluirParabéns! Seu blog deveria ser transformado em livro e adotado por todas as escolas da 9a. CRE.
ResponderExcluirAbraços!
Boa noite. Muito obrigado, meu amigo. Se puder, torne-se um seguidor do blog. Ajuda muito na divulgação. Um grande abraço.
ExcluirParabéns! Seu blog deveria ser transformado em livro e adotado por todas as escolas da 9a. CRE.
ResponderExcluirAbraços!
Curioso que no mapa diz que o item 5 é a estrada Rio do A. Sempre conheci esta estrada do outro lado da estação.
ResponderExcluirBoa noite, Sérgio. As delimitações de algumas estradas sofreram alterações com o passar do tempo. A Rio do A é uma delas que passou por isso. Muito obrigado pela visita ao blog. Um grande abraço.
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