domingo, 3 de março de 2019

A tradição dos bate-bolas

    Longe do glamour, das transmissões de TV e das expectativas dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, existe há mais ou menos 80 anos um outro tipo de carnaval, marcante principalmente nos bairros das Zona Norte e Oeste do Rio, além de municípios da Baixada Fluminense: Os bate-bolas.
    Trata-se de uma turma fantasiada com máscaras medonhas, porém com vestidos muito bem elaborados, incluindo cetim, penas coloridas, luvas, entre outros adereços. Sozinhos ou em grupo, belos e assustadores, com objetivo de mostrar suas fantasias ou/e de amedrontar a criançada, os mascarados, como são conhecidos também, começavam a circular pelas ruas antes mesmo do carnaval (hoje nem tanto).
    Devido à proximidade de semelhança da máscara com a de um palhaço, os bate-bolas também são chamados de clóvis, possivelmente uma evolução da palavra inglesa clown, que significa palhaço.
    A origem dessa "turma" pode remontar aos palhaços da Folia de Reis, passando por mitos celtas e  indo também até o período medieval europeu. Alguns se exibem com sombrinhas e leques, mas muitos se apresentavam (falo no passado porque atualmente a frequência é bem menor) geralmente carregando uma bola amarrada à mão, também chamada de bexiga, assustando principalmente as crianças por onde passavam. Batendo a tal bexiga no chão e correndo pra cima da gurizada, estes vinham com um tradicional grito assustador de "Obaaaa!!!", causando um terror na molecada. E as crianças, pra provocar, gritavam, entre outras frases, para os clóvis: "Mascarado pé de pato, comedor de carrapato, se for homem vem aqui, se for bicha fica aí!" (Pelo menos era assim que eu e meus amigos fazíamos). Pronto! Era a senha pra começar a correria e brincadeira, que na maioria era sadia. Cito maioria porque existiam bate-bolas que colocavam vinagre e sal (ou algo parecido) em suas bexigas pra baterem com elas nas crianças, fazendo arder, inclusive.
    Além dos clóvis, "desfilavam" também com mais intensidade durante o carnaval nesses locais outras turmas, como as bruxas, os gorilas, o tradicional "Pai João", que era um personagem maltrapilho, entre outras.
     Assim, de bola de couro de boi a bola de borracha, com sombrinhas em mãos ou só com máscaras, os clóvis foram evoluindo, resistindo e mantendo uma tradição marcante nas periferias e subúrbios do Rio.
    Abaixo, um registro de um bate-bola na Rua Coronel Agostinho, atual Calçadão de Campo Grande, na década de 1960.

Imagem pertencente ao Acervo particular de Nagib Assad Filho

16 comentários:

  1. Os bate-bolas, pierrôs, mascarados ou clóvis sempre foram figuras dos Carnavais de Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Nas minhas lembranças dos anos de 1960 e 1970, causavam pavor às crianças e aos adultos, quando estavam em bandos. Podiam ser bandos de adultos ou de crianças, com suas bexigas de boi fedorentas, que eram vendidas no Matadouro de Santa Cruz, e, muitas vezes, untadas com areia e sal. Enchiam as bexigas de ar, através de canudos, muitas vezes com talos de mamoeiros... A bexigada doía muito, de forma que muitos tinham medo de sair de casa, mesmo para ir à padaria na própria rua onde se residia...rsrsrsrs... Havia vários 'gritos' dos bate-bolas, como "PARRENTE" !!! kkkkkkk... Tempos inesquecíveis,

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    1. Com certeza, meu amigo. Há muitas histórias particulares sobre os bate-bolas. Época boa. Muito obrigado por mais uma visita ao blog. Abração.

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    2. Também tinha os diabinhos, com roupa vemelha e uma máscara enorme.

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    3. Isso aí. São muitas lembranças dos carnavais de Campo Grande. Muito obrigado pela visita ao blog.

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  2. Reminiscências de uma época que me fez lembrar de minha infância e adolescência. Quando eu e a meninada corríamos dos bate-bolas com suas máscaras apavorantes. Foi muito bom saber que eles ainda resistem em diversos bairros cariocas. Parabéns pelo texto!

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    1. Bom dia, meu amigo. Eu sou suspeito de reminiscência. Sou muito saudosista. Rsrs. E com certeza as histórias sobre os bate-bolas remetem muito à minha infância também. Muito obrigado por mais uma visita. Um grande abraço.

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  3. Sempre um aprendizado e nostalgia.
    Parabéns mais uma vez!

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    1. Boa Noite. Muito obrigado, minha querida. Se puder, torne-se seguidora do blog. Um grande abraço.

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  5. Como não lembrar do grupo com mais de 100 bate-bolas que passava desfilando pela minha rua em Bangu? Como você disse essa fantasia era uma tradição. Mas esse grupo marcou a minha memória pela quantidade de mascarados que passava com belas fantasias, com boleros lindamente bordados e perfumados!

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    1. Boa Noite. Sim, Alline. Os bate-bolas, Clóvis, carrascos, pai João, bruxas e afins marcaram minha infância. Pena hoje ver poucos e alguns associados à violência. Bons tempos! Muito obrigado pela visita ao blog.

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  6. Infelizmente uma tradição que foi destorcida no final dos anos 70 e início dos 80 para roubos agressão e camuflagem de fugitivos da lei

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  7. Eu sou criador de uma turma de Bate bola, saio de bate bola desde criança, parei por um período que ficou muito violento , que até roubavam fantasias de quem estava sozinho , como eu ainda era criança minha mãe deixou de fazer . Mas quando eu comecei a ganhar meu próprio dinheiro aí comecei a pagar meu bate bola, e em 1999 eu e meu compadre fundamos a TURMA SEMPRE JOVEM. Ganhamos algumas vezes o concurso da Rio tur no centro da cidade que acontece no último dia de Carnaval. E até hoje saímos de Bate bola junto com filhos e esposa.

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    1. Boa Noite, Bricio. Muito bacana seu relato, em manter viva essa importante tradição, apesar de algumas adversidades. Muito obrigado pela visita ao blog. Um abraço.

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