sexta-feira, 20 de março de 2020

Campo Grande: do rural ao subúrbio

Imagem: quadro da artista plástica e designer Cândida Ferreira. 

    Até meados do século XX, Campo Grande, assim como toda a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, era conhecido como Sertão Carioca, ou Zona Rural. Local de atividades agrícolas relevantes, como cana-de-açúcar, café entre outras, o bairro teve um período de destaque na produção de laranjas, entre as décadas de 1920 e 1940, além da avicultura.
     Porém, a partir da metade do século passado, Campo Grande começou a deixar seus ares bucólicos e rurais para trás, adquirindo um processo de evolução e progresso, a tal urbanização. Isso se deu com uma série de fatores, como o crescimento do comércio, fortalecido com a inauguração do Calçadão em 1976. Aliado a isso vieram as indústrias, inclusive a criação do Distrito Industrial, em 1975. Também houve uma opção por parte do governo do Rio em orientar o crescimento populacional rumo à Zona Oeste, porém não oferecendo serviços e infraestrutura na mesma proporção. Podemos destacar também que, com o fim do ciclo da laranja, várias terras que eram destinadas à produção da fruta, transformaram -se em loteamentos, atraindo mais pessoas para o bairro. Além disso, a Avenida Brasil chega ao bairro na década de 1960.
     Com tudo isso, Campo Grande, que possui um título honorário de bairro-cidade, foi incorporando estrutura de uma localidade suburbana, ou urbana em expansão, apesar de ainda possuir alguns bolsões agrícolas, como Serrinha, Mendanha e Rio da Prata. 
     Mas se Campo Grande hoje pode ser considerado um subúrbio, o que seria um subúrbio? Temos algumas definições, como: "Bairros que não estão localizados na área central da cidade"; existem algumas mais depreciativas, como: "periferia das cidades ou aglomerado de terrenos de difícil utilização, carentes de serviços, nos quais o valor da terra é baixo e o transporte, precário"; há alguns autores que ainda acrescentam que uma das características do subúrbio é ser "cortado" por uma linha férrea. Nesse caso, Campo Grande possui uma estação ferroviária desde 1878, mas nesse período e até décadas depois, o bairro ainda era bem rural.
     Já para o geógrafo Yu Fu Tuan, o subúrbio, entendido como fronteira da expansão metropolitana, ao incorporar valores do campo, acaba por sugerir um estilo de vida perfeito, combinando o melhor da vida rural e urbana, ou seja, sem os seus defeitos.
     Uma outra questão é que, quando se tem uma mudança de uma vida rural para uma urbana, temos a urbanização e o urbanismo, em que a primeira refere-se às transformações no espaço, como as construções, enquanto urbanismo diz respeito ao estilo de vida característico das pessoas do meio urbano, como a pressa, por exemplo.
     Nesse sentido, será que o campograndense já incorporou o novo estilo de vida do bairro ou foi só o bairro que se transformou? Será que ainda estamos distante dos grandes centros ou seríamos um subcentro regional? Ou Campo Grande é o que podemos chamar de longe necessário?
     Eis a questão!

Fonte consultada: Uma ilha de símbolos - um lugar e suas simbólicas geografias. Marcio Luis Fernandes. Novas Edições Acadêmicas. 2019.

4 comentários:

  1. Campo Grande se transformou, mas ainda falta aos seus moradores se adaptarem a essas transformações. O ideal seria que eles conhecessem mais a história das suas comunidades e a sua relação com o centro do bairro.
    Parabéns pela excelente postagem!

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    1. Isso, meu amigo. As pessoas que vêm de outros locais não têm no sangue a paixão pelo bairro e sequer se preocupam em conhecer a história da região. Muito obrigado mais uma vez pela visita ao blog. Um grande abraço.

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  2. No momento não vivo em Campo Grande, mas foi o bairro onde tive minha infância e escolaridade até a conclusão da faculdade. Também trabalhei no bairro. Minha raízes e amizades estão todas em Campo Grande que apesar de um crescimento desenfreado e descontrolado que provocou muitos estragos ambientais e também engarrafamentos enormes e a violência que abrange toda cidade, já estou construindo minha casa para poder voltar a viver aí.

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    1. Olá, Sérgio. Realmente, Campo Grande teve uma evolução que não significa sempre algo positivo. Tem seus prós e contras. Mas ainda é um local bom de se viver. Que bom que está voltando. Muito obrigado pela visita ao blog.

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