terça-feira, 31 de março de 2020

Por trilhos de Campo Grande à Central.

    A seguir, uma crônica de minha autoria presente no livro que publiquei, "Contos e crônicas ", da editora Palavra é arte, intitulado " Carlos Eduardo de Souza e outros autores", no qual divido meus textos com de outros autores, do Brasil e do mundo, e que ainda tenho alguns exemplares à venda.
Ilustração de Elder Sodré.

Crônica de uma viagem de trem

    Num certo dia, embarquei em uma viagem muito comum para boa parte dos cariocas, mas não muito para mim. Trata-se de uma migração pendular, aquela do dia a dia de milhões de trabalhadores, estudantes e afins, de ida e volta pelo mesmo trajeto pela malha ferroviária.
    As viagens de trem possuem suas peculiaridades, como os divertidos vendedores, dos mais variados e imagináveis produtos, com seus bordões, clichês, num vai e vem incessante dentro de vagões lotados, com pessoas das mais variadas características, objetivos, destinos e, inclusive, até classes sociais.
    Neste dia fui rumo ao centro da cidade, viajando neste cenário "mágico". Eis que surgiu uma figura que, a princípio, imaginei ser mais um dos muitos ambulantes frenéticos, que caracterizam as viagens ferroviárias, o nosso "Expresso do Oriente". No início do discurso do fulano, não prestei muito atenção, pois achei que era mais uma tentativa de venda. De repente, uma fala do cara me chamou a atenção. Ele disse:
    - As mulheres têm que ser valorizadas. Elas têm que dar conta do marido, dos filhos, da casa, trabalham fora...e o homem não dá a mínima pra isso!
     Confesso que a partir daí comecei-me dar atenção ao falante. Achei sua fala interessante. E o homem continuou:
    - Os homens têm que levar flores para suas esposas...(Naquele momento lembrei-me da música da Ana Carolina que diz "...toda mulher gosta de rosas...").
    Até aí estava tudo dentro dos "trilhos", quando o rapaz começa a ficar polêmico e diz: - É por isso que hoje as mulheres estão ficando com mulheres, pois uma entende melhor a outra, já que os homens não as valorizam. Pensam que todos os homens são ogros! Mulheres, nem todos os homens são ogros, não!
    Aí pensei: - Agora ele conseguiu chamar a atenção de quase todo o vagão.
    E ele continuou:
    - Vocês, pais, têm que orientar direito seus filhos. Mostrar a realidade financeira pra eles, levá-los a lugares onde vivem pessoas carentes, darem enxadas nas mãos deles e dizer que se eles não estudarem, vão ter que usar a força bruta.
    Gostei dessa última fala. Para mim, houve uma certa relevância. Mas o camarada resolveu voltar à polêmica e disparou:
    - Vocês, pais, têm que perceber se seus filhos estão ficando afeminados. Isso é coisa do diabo. Isso não existe! Homem é homem e mulher é mulher!
    Naquele momento lembrei-me de outra música, a do Falcão, que cita "...homem é homem, menino é menino, macaco é macaco, e v..."
    "Pronto, agora esse cara vai ser linchado nesse vagão lotado. Vai acontecer uma tragédia", pensei.
    Mas o homem não se intimidava e continuava a comentar sobre aqueles assuntos. Achei aquele ser de uma coragem tamanha, vide o mundo em que vivemos atualmente, no qual esses assuntos são superdelicados e passivos de punições.
    Depois de soltar outras frases, digamos, no mínimo machistas e/ou homofóbicas, o homem soltou:
    - Bom, pessoal, se me permitem, agora vou trabalhar. Fiquem com Deus e tenham uma boa viagem.
    As pessoas ficaram se entreolhando. O homem desceu na estação seguinte (ileso) e seguiu seu destino (assim eu acho).
   E assim a vida de cada um seguiu também. O homem deu seu recado e aparentemente nada mudou.  Mas tivemos uma exposição de democracia naquele vagão de trem. Coisas daquela natureza, a diversidade, é o que mais caracteriza as viagens de trem. Diversidade até de opiniões.
    Fim da linha.




quarta-feira, 25 de março de 2020

Rosacruz e Campo Grande

    Alguns consideram como algo misterioso. Outros, como místico. Ou até filosófico-religioso. Com poucas respostas, mas presente em nossa sociedade, o movimento Rosacruz ou Rosacrucianismo é definido, pelo menos para estudiosos do caso, como um movimento filosófico surgido na Europa, que envolve "esoterismo e passado antigo, como o Egito Antigo", "alquimismo medieval e gnosticismo" e mencionando a Kabbalah, o hermetismo e o cristianismo.
     Em Campo Grande, na Rua Almirante Grenfell, próximo ao West Shopping, localiza-se um "templo" Rosacruz.
     

     O Jornal Patropi, de 1983, citou a "instituição" com o título de matéria "Os Rosacruzes celebram antigo ritual de ano novo". Eis a matéria:
     "A realização de uma cerimônia que teve sua origem no Antigo Egito há mais de quarenta séculos será a máxima atração de um conclave Rosacruz local nesta cidade no dia 20 de março de 1983, às 9 horas.
     De conformidade com as declarações do Mestre dos Rosacruzes, Yolanda Rangel Pereira, desde os tempos de Menfis até o período de Ptolomeu, os Antigos Egípcios iniciavam o seu Ano Novo por ocasião do equinócio vernal, ou nas suas proximidades, quando o Sol, em sua jornada, cruza o Equador celeste e entra no signo zodiacal de Áries, o qual ocorre sempre no dia 21 de março, ou em suas proximidades. Essa passagem era considerada como o início do Ano Novo, simbolizando a nova vida... Como a ordem Rosacruz  AMORC, fraternidade não religiosa, porém filosófica, sustém que a sua origem tradicional ocorreu durante o reinado de Amenhotep IV no ano 1350 A.C., a Ordem comemora esse antigo Ano Novo com uma cerimônia, a qual, embora não religiosa, contém a significação alegórica do velho rito egípcio..."
     E assim é Campo Grande, o local de tudo e de todos, sempre comportando todas as culturas e manifestações afins.

Fonte consultada: Jornal Patropi, março de 1983.
     
     

sexta-feira, 20 de março de 2020

Campo Grande: do rural ao subúrbio

Imagem: quadro da artista plástica e designer Cândida Ferreira. 

    Até meados do século XX, Campo Grande, assim como toda a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, era conhecido como Sertão Carioca, ou Zona Rural. Local de atividades agrícolas relevantes, como cana-de-açúcar, café entre outras, o bairro teve um período de destaque na produção de laranjas, entre as décadas de 1920 e 1940, além da avicultura.
     Porém, a partir da metade do século passado, Campo Grande começou a deixar seus ares bucólicos e rurais para trás, adquirindo um processo de evolução e progresso, a tal urbanização. Isso se deu com uma série de fatores, como o crescimento do comércio, fortalecido com a inauguração do Calçadão em 1976. Aliado a isso vieram as indústrias, inclusive a criação do Distrito Industrial, em 1975. Também houve uma opção por parte do governo do Rio em orientar o crescimento populacional rumo à Zona Oeste, porém não oferecendo serviços e infraestrutura na mesma proporção. Podemos destacar também que, com o fim do ciclo da laranja, várias terras que eram destinadas à produção da fruta, transformaram -se em loteamentos, atraindo mais pessoas para o bairro. Além disso, a Avenida Brasil chega ao bairro na década de 1960.
     Com tudo isso, Campo Grande, que possui um título honorário de bairro-cidade, foi incorporando estrutura de uma localidade suburbana, ou urbana em expansão, apesar de ainda possuir alguns bolsões agrícolas, como Serrinha, Mendanha e Rio da Prata. 
     Mas se Campo Grande hoje pode ser considerado um subúrbio, o que seria um subúrbio? Temos algumas definições, como: "Bairros que não estão localizados na área central da cidade"; existem algumas mais depreciativas, como: "periferia das cidades ou aglomerado de terrenos de difícil utilização, carentes de serviços, nos quais o valor da terra é baixo e o transporte, precário"; há alguns autores que ainda acrescentam que uma das características do subúrbio é ser "cortado" por uma linha férrea. Nesse caso, Campo Grande possui uma estação ferroviária desde 1878, mas nesse período e até décadas depois, o bairro ainda era bem rural.
     Já para o geógrafo Yu Fu Tuan, o subúrbio, entendido como fronteira da expansão metropolitana, ao incorporar valores do campo, acaba por sugerir um estilo de vida perfeito, combinando o melhor da vida rural e urbana, ou seja, sem os seus defeitos.
     Uma outra questão é que, quando se tem uma mudança de uma vida rural para uma urbana, temos a urbanização e o urbanismo, em que a primeira refere-se às transformações no espaço, como as construções, enquanto urbanismo diz respeito ao estilo de vida característico das pessoas do meio urbano, como a pressa, por exemplo.
     Nesse sentido, será que o campograndense já incorporou o novo estilo de vida do bairro ou foi só o bairro que se transformou? Será que ainda estamos distante dos grandes centros ou seríamos um subcentro regional? Ou Campo Grande é o que podemos chamar de longe necessário?
     Eis a questão!

Fonte consultada: Uma ilha de símbolos - um lugar e suas simbólicas geografias. Marcio Luis Fernandes. Novas Edições Acadêmicas. 2019.

quarta-feira, 18 de março de 2020

O Calçadão de Campo Grande e seus "personagens"

   

    Inaugurado em 1976, sendo um projeto do paisagista Roberto Burle Marx, o Calçadão de Campo Grande é considerado o grande centro econômico e de serviços do bairro. Por ali, passam um grande número de pessoas todos os dias, "cortando" a Rua Coronel Agostinho,  passando pela Viúva Dantas, Augusto Vasconcelos, Beco do Seridó, entre outros acessos, atravessando o Túnel, chegando ao "outro" lado, na Rua Barcelos Domingos e seguindo seus caminhos.
     O local de grande vai e vem de transeuntes, abrange um relevante número de casas comerciais, além do famoso Mercado São Braz. Lembrando que o Calçadão já possuiu um cinema, na verdade localizado na Rua Augusto Vasconcelos, considerada parte do local, e a saudosa Silbene, a qual, segundo os moradores, "vendia-se de tudo".
     A imagem acima é de uma reportagem  do Caderno Zona Oeste, do Extra/O Globo, de novembro de 2012, sobre o Calçadão de Campo Grande e aqueles que caracterizam o local. Um exemplo é o "Estátua humana", um homem que, além de ficar parado por um bom tempo, faz movimentos e sons robóticos e distribui pirulitos para as crianças. A reportagem afirma:
     "O movimento do Calçadão de Campo Grande só para quando os artistas de rua e da cultura regional entram em cena. No grupo, está o morador de Senador Camará Ualace (com U mesmo) da Costa Feitosa, de 25 anos, que trabalha como estátua humana desde os 17.
      - A minha missão é levar alegria - ensina".
     A reportagem também abordava o acarajé da baiana Rosemeire Souza Correia, moradora da Praia da Brisa e o raizeiro Juarez de Jesus, à época com 85 anos, vendendo suas ervas, raízes e cascas.
     Além deles, quem passa pelo Calçadão do bairro mais populoso do município do Rio de Janeiro (segundo pesquisas o mais populoso do Brasil) encontra outros "atrativos", como feira de livros, vendedores de pipoca, pamonha, suco, chipes de celular e diversos, marcando assim o espaço de maior concentração de Campo Grande e, bem provavelmente (e infelizmente), um dos  maiores em termos de  poluição sonora também. 


Fonte consultada: Caderno Zona Oeste, 24 de novembro de 2012.
     
      


segunda-feira, 16 de março de 2020

Meu livro de pesquisas

   

     No mundo informatizado e avançado tecnologicamente em que vivemos atualmente, é difícil, principalmente para as gerações mais novas, pensarmos em pesquisar sobre algum assunto sem recorrermos aos aparelhos eletrônicos, com seus sites e ferramentas que, ao darmos um simples toque, abrem um "mundo" de opções na palma de nossas mãos.
     Pois bem, mas eu sou da época antes da internet, e por isso, tive o prazer de pesquisar em bibliotecas (como faço até hoje), em revistas, colecionar jornais que vinham com cadernos especiais de pesquisas (O Globinho, do Jornal O Globo, por exemplo) e nos charmosos livros de pesquisas.
     Ainda guardo com muito orgulho uma coleção desses livros de pesquisas, numa época que, além de muito úteis, ficavam muito bonitos numa estante. Foi com eles que comecei a despertar minhas curiosidades, já que os mesmos me mostravam todos os presidentes do Brasil e figuras  importantes de nosso país até aquele momento; todos os estados com suas características; datas comemorativas e importantes, entre outros relevantes assuntos.
     Alguns deles eram oferecidos pelos conhecidos vendedores de enciclopédias, pessoas que entravam no meio das aulas para vender materiais didáticos aos alunos, geralmente muito coloridos, lúdicos, tudo para atrair a clientela mirim.
     E esses mesmos livros de pesquisas me fazem lembrar também de meus anos iniciais na escola. Ainda guardo também com muito carinho uma foto minha na Escola Municipal Benjamin Franklin, em Campo Grande. À época, essas fotos eram clássicas, praticamente uma tradição. 

    Lembro-me também das minhas "tias", minhas eternas professoras dessa mesma escola, como Lourdinha, Ilcea, Dorinha e minha "tia" Cleide, a qual me deu uma pequena medalha por ter sido considerado o melhor aluno da turma, na antiga 3° série (atual quarto ano), em 1990. E, para variar, também ainda guardo essa medalha.

    Mas o tempo passou, a internet chegou, e esses livros ficaram quase que obsoletos, porém ainda de grande importância afetiva e de memória, nunca perdendo seu charme, assim como a lembrança, eternizada mesmo com a passagem do tempo.


domingo, 15 de março de 2020

O túnel no tempo

   A imagem acima é do Jornal Patropi, do ano de 1983, trazendo um problema que já foi muito comum no chamado Túnel de Campo Grande: alagamento em dias de chuvas fortes.
     Inaugurado em 09 de agosto de 1952, a passagem subterrânea, mais conhecida como Túnel de Campo Grande, recebe um número relevante de transeuntes diariamente, ligando um lado do Calçadão de Campo Grande ao outro, Rua Coronel Agostinho e Rua Barcelos Domingos. 
     A charge retrata uma época em que o famoso Túnel, com seus subempregados de todos os tipos e bordões, alagava com certa frequência em dias de chuvas fortes, deixando o local com a passagem impraticável.
     Atualmente, o problema não é mais frequente, e o túnel, em 2007, teve uma obra concluída, ampliando e reformando seu espaço, sendo instaladas escadas rolantes.
     Assim, a imagem acima ficou no túnel...do tempo de Campo Grande. 

Imagem: Jornal Patropi, 1983.

quinta-feira, 12 de março de 2020

Campo Grande nos dias atuais desde 1980

   A imagem acima pertence ao Jornal Patropi, sendo uma charge, criticando os problemas encontrados no centro de Campo Grande, mais especificamente a Rua Campo Grande, como trânsito, buracos, vendedores quase invadindo as ruas, entre outros. 
     Nenhuma grande novidade para os moradores do bairro, certo? A questão é que a imagem é de 1980. Ou seja, naquele ano, os problemas que o bairro enfrenta hoje já eram comuns. 
     Constata-se então que os problemas tipicamente urbanos de Campo Grande são de longa data, ficando mais intensos com o passar do tempo, com o aumento da população, do comércio e do número de automóveis.
     Assim, desde que começou a perder atmosferas rurais, em meados do século XX, o bairro da Zona Oeste começou a presenciar as características do progresso. Mas sem ordem, até porque: "Desde quando poluição é progresso? Desde quando progresso é melhor? Acho melhor começar tudo de novo do que acabar pela primeira vez."
     Então, Campo Grande passa por uma evolução, revolução ou involução? Eis a questão.

Fonte da imagem: Jornal Patropi, 1980.
Trecho da música "Desde quando", dos Engenheiros do Hawaii. 

terça-feira, 10 de março de 2020

Os "nativos" do Maciço da Pedra Branca

     Abaixo uma reportagem exibida no Programa Domingo espetacular, da TV Record, mostrando a vida isolada dos agricultores do Rio da Prata, no Maciço da Pedra Branca. 
     Trata-se de famílias descendentes de indígenas (principalmente Picinguabas), de escravos e até portugueses que vivem na localidade, sem luz elétrica, num ambiente que lembra o século XIX.



     Confiram:

segunda-feira, 9 de março de 2020

Antes do West Shopping

    Abaixo, um trecho de meu livro "A criação de um subcentro em Campo Grande": "Com a criação do West Shopping, em 1997, começou a ter uma saída do foco comercial e econômico do centro de Campo Grande, que continua exercendo poder sobre o bairro. O local onde hoje se encontra o Shopping foi um loteamento vazio, em frente à Estrada do Mendanha, no qual a ECIA concretizou seu próposito de construção em 1997".
     Além de ter sido um loteamento vazio, como aponta o livro, o local onde hoje se encontra o primeiro shopping de Campo Grande, segundo moradores, era um certo "pântano", mas que de vez em quando recebia parques e circos. Num desses, integrantes dos Trapalhões, que fizeram muito sucesso nos anos 1980, marcaram presença no local, agraciando o público presente daquele terreno que mais tarde seria o West Shopping.
   Na foto, pertencente a José Luciano Silva, é possível perceber o saudoso Mussum e seu companheiro Dedé Santana. Eram os Trapalhões no futuro West Shopping.

Foto: gentilmente cedida por José Luciano Silva.
     

domingo, 8 de março de 2020

A inclusão feminina do Campusca

    Oito de março. Dia Internacional da mulher. Ainda nos dias de hoje, a mulher luta incessantemente por direitos básicos, respeito, salários justos, inclusão, em todas as esferas da sociedade, inclusive no esporte. E no futebol não é diferente.
     Felizmente, hoje já acompanhamos mais as meninas nos gramados, mas o futebol feminino no Brasil ainda engatinha. Vale lembrar que o esporte foi proibido para as moças durante décadas. 
     E o Campo Grande Atlético Clube, o Galo da Zona Oeste, se orgulha por ter sido um dos pioneiros a abrir as portas e incentivar a prática do futebol feminino no clube. 
     Abaixo, uma reportagem do Jornal Patropi, de 1983, constata o fato:

    A reportagem cita a preparação para o primeiro campeonato carioca feminino, com o Campo Grande "recrutando" jogadoras interessadas na novidade.  Segundo a reportagem, "Todas as jogadoras são federadas mas nenhuma contratada. 'O futebol feminino é amador..."
     Ainda segundo as informações do Jornal, a rotina das jogadoras era a seguinte: "As meninas, de idade oscilante entre 15 e 27 anos, treinam diariamente assistidas pelo técnico José Carlos e pelo preparador físico Ubiratan da Silva. Na segunda-feira é dia de exercícios na piscina, na terça e quarta coletivo no campo do Oiti, na quinta física e na sexta-feira treino-apronto (recreação)". 
    E quando indagadas sobre o que poderia mudar na vida delas: "E as suas vidas particulares: namorados, escolas, trabalhos, como ficam? Todas respondem categoricamente que nada mudou, que o fato delas praticarem um esporte até há pouco tempo considerado apenas para homens não as tornaram marginalizadas perante aos outros".
     Ainda no Jornal, uma charge brincando com o momento de início de mudança da inclusão das mulheres no futebol:

     E assim o Campo Grande contribuiu para a inclusão das mulheres no futebol, numa época em que esse tipo de atitude era pouquíssimo aceito pela sociedade machista. E para coroar essa iniciativa do Campusca, o clube, bem mais tarde, sagrou-se campeão carioca feminino por duas vezes, em 2004 e 2008. Mais uma grande conquista do Campo Grande Atlético Clube. 

Fonte consultada: Jornal Patropi, 1983.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Marcelo Yuka: filho eterno de Campo Grande

   " No fim da tarde, as mulheres começavam a varrer a calçada, repetindo o que já haviam feito pela manhã. Depois se concentravam nos portões, botavam as cadeiras na calçada e ficavam de papo, vendo as crianças brincando na rua. Era uma forma de receber os maridos que voltavam do trabalho. Eu via essa ciranda e adorava: a chegada dos pais. Não para mim, que só ia vê-los às dez da noite. Mas a maioria sentia essa energia, o que acabava juntando todo mundo".
     A cena descrita acima é de Marcelo Yuka, músico que fez sucesso no grupo O Rappa, presente no livro "Não se preocupe comigo - Marcelo Yuka", por Bruno Levinson.
     Na obra citada é abordada, além de outros fatos, a infância do baterista em Campo Grande, o qual descreve-o com ares quase "bucólicos", familiar, com pessoas conversando e crianças brincando nas calçadas, típico como ele mesmo relata, um "subúrbio dos sonhos".
     A Rua Vitor Alves é mencionada da seguinte forma: "Minha tia mora no mesmo lugar até hoje: Rua Vítor Alves". E também ressalta as mudanças pelo qual o bairro estava passando naquele momento, final dos anos 1960 e início dos anos 1970: "Mas naquele momento, aquela área de Campo Grande passou a ter outra opção de vida, além do campo e do comércio local: começou a virar uma cidade-dormitório, os pais saindo cedo para trabalhar e voltando para casa à noite". Além disso, "Nessa época, na comunidade em que viviam, o máximo para a mulher era ser normalista. Estudar significava ter que sair de Campo Grande rumo ao centro da cidade, fazer uma prova de admissão e pegar trem. Era uma coisa de poder feminino", ressaltava o músico.
     E o restante do livro continua contando a trajetória e a vivência do (como ele mesmo se definia) tímido músico, de letras reflexivas, que abordavam temas sociais, políticos e afins, que, infelizmente, foi mais uma vítima da violência urbana em novembro de 2000, o deixando, como ele mesmo afirmara: "Sonho de ninguém comporta a realidade de ter virado um aleijado".
     De Campo Grande, Yuka saiu para o "mundo", como Angra dos Reis, Baixada Fluminense, os grupos O Rappa e o F.U.R.T.O., até infelizmente vir a falecer em 18 de janeiro de 2019, sendo enterrado no cemitério de Campo Grande, seu bairro de origem. 
     Sem dúvida alguma, mais um ilustre cidadão do bairro da Zona Oeste que deixou seus nome e obra gravados nessa vida passageira. "A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego".

Foto: Yuka brincando com os vizinhos em Campo Grande. Fonte: Acervo especial

Foto: Yuka no Colégio Augusto Vasconcelos, em Campo Grande. Fonte: Mônica Imbuzeiro. Ag. O Globo.

Foto: Yuka na Pista de Skate de Campo Grande. Fonte: Mônica Imbuzeiro. Ag. O Globo.

As duas últimas fotos pertencentes ao Caderno Zona Oeste do Jornal O Globo. 

Todas as fotos retiradas do livro "Não se preocupe comigo - Marcelo Yuka". 
Artigo baseado no mesmo livro.



quinta-feira, 5 de março de 2020

Entrevista da Capela Magdalena em Guaratiba

    Abaixo um programa exibido no RJ TV sobre a Capela Magdalena, localizada em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. 
      O programa mostra os atrativos do local pertencente ao músico Roberto de Regina, grande cravista brasileiro, como a paisagem, um museu de miniaturas de carros, castelos e outros, música tocada num cravo pelo próprio Roberto, entre outras atrações.




domingo, 1 de março de 2020

O Vasquinho do Tingui

   Desde pequeno já era um ser apaixonado por futebol. Além de gostar de ver os jogos pela TV, também era viciado em jogar minhas "peladas", "altinhos", "chute a gol", no campo, na rua, na varanda de minha casa, nos fundos do quintal de algum amigo e onde mais tivesse espaço (ou não). Até no muro de vizinhos era comum eu e meus colegas ficarmos incomodando com nossos chutes. 
     Nessa época acompanhava muitos jogos também pelo rádio, já que não existia essa facilidade de ver vários jogos televisionados como hoje em dia. Ah, que saudade da narração do José Carlos Araújo dizendo "Atirou...entrou", com a voz saindo de um rádio de pilha de meu saudoso pai!
     Vascaíno igual meu pai, possuía algumas camisas de meu time de coração, e foi aí que comecei a ter uma ideia de montar um time com os amigos de minha rua para marcarmos um "time contra" com os meninos das outras ruas. E aí batizamos nosso time carinhosamente de "Vasquinho", devido ao jogo de camisas ser do time da Cruz de Malta, mesmo com muitos flamenguistas fazendo parte. Lembrando que não era com onze jogadores, mas no máximo de seis ou sete, com numerações aleatórias e algumas camisas tendo o número pintado por canetinha. Não precisava nem dizer que depois dos jogos o número não existia mais, né?
     Porém, sem saber, na localidade do Tingui à época de minha infância (entre as  décadas 1980/1990), existia um time de pelada conhecido como "Vasquinho do Tingui". Era comum naquele tempo ocorrer torneios nos chamados sub bairros de Campo Grande, com muita rivalidade e jogos acirrados, no Tingui, no Corcundinha, em Vila Nova e em vários outros pontos.
     

Foto: Internet

   A imagem acima mostra o Vasquinho do Tingui, apresentando um jogador que despontou no cenário do futebol brasileiro: o atacante Guga. É o segundo em pé da direita para a esquerda.
     O jogador, que morou nas localidades do Tingui e Oiticica, começou carreira na década de 1980, atuando em clubes como Atlético Mineiro, Flamengo, Internacional de Porto Alegre, Inter de Limeira, Goiás, Botafogo, entre outros, se destacando no Santos, pelo qual foi artilheiro do campeonato brasileiro de 1993. Também atuou em clubes fora do Brasil, no Japão e na Arábia Saudita, encerrando carreira na década de 2000.
     Ah, e é claro, em seu currículo também está o Vasquinho do Tingui, mesmo que de forma amadora, e mesmo que não tenha sido o meu Vasquinho.

Informações sobre o Vasquinho do Tingui: Professor Absai Leite.