sábado, 24 de março de 2018

Aconteceu num Domingo de Ramos

Imagem. Fonte: Colégio Diocesano de Caruaru.

    O Domingo de Ramos, para quem não segue o catolicismo, é aquele domingo que antecede o Domingo de Páscoa, tão esperado e aguardado devido à distribuição de chocolates. Para os católicos, o Domingo de Ramos possui muito mais relevância, já que se trata da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento, considerado um animal da paz, além de representar a humildade. Segundo a tradição, quando um rei chegava montado num cavalo, queria a guerra; já quando chegava em um jumento, procurava a paz. Assim, a entrada de Jesus em Jerusalém o colocava como o "príncipe da paz".
    Porém, em um certo Domingo de Ramos, mais precisamente em 1716, ocorreu a "guerra" ao invés de ter a "paz", na Igreja de Nossa Senhora do Desterro, Matriz de Campo Grande, quando ainda localizava-se nas terras de Bangu. 
    Um dos principais fazendeiros do templo, João Manuel de Mello, encontrava-se na igreja, no tradicional dia celebrado pelo catolicismo. Num certo instante, dois outros fazendeiros, José Pacheco e José Gurgel, acompanhados de um bando de capangas e escravos, entram na igreja e matam João Manuel. Trágico, não!? Mas teve mais. Como é de costume e um dos sacramentos da Igreja Católica, o padre foi dar a extrema-unção, quando...também foi assassinado.
    Relatado pelo ouvidor-mor,  Fernando Pereira de Vasconcellos, ao Conselho Ultramarino, instituição portuguesa responsável por várias questões relativas às colônias, o crime acabou por esvaziar a igreja e "forçar" a mudança de local para o atual bairro de Campo Grande. Há indícios que os assassinos nunca foram presos, mesmo com o pedido de justiça feito pela viúva do falecido fazendeiro e com a promessa de recompensa, feita pelo então governador, àqueles que porventura os trouxesse (vivos ou mortos).
    E assim foi um certo Domingo de Ramos na Igreja de Nossa Senhora do Desterro, um certo "sunday bloody sunday", em que o cavalo da guerra prevaleceu sobre o jumento da paz. Direto do túnel do tempo.

    Fonte consultada: O Velho Oeste Carioca, volume III. André Luis Mansur.

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