Centro de Campo Grande, 2025.
Por muito tempo a geografia foi conhecida como a ciência de descrição e diferenciação dos locais e das paisagens. Desde a época das grandes expedições, executavam-se tarefas de mapeamento e descrição das terras "descobertas". As tarefas ficavam a cargo de profissionais ligados à geografia, além de pintores/desenhistas, responsáveis por capturar as imagens. O próprio termo "paisagem" remonta ao século XV, vinculado às representações artísticas ligadas à natureza. Daí muitas pessoas associarem paisagem a algo bonito.
Até o surgimento da fotografia, a descrição da paisagem era algo muito difícil, basicamente pela dificuldade em descrever as formas de relevo. Porém, com o advento fotográfico no século XIX, iniciou-se o registro, com maior facilidade, das diferenças entre as pessoas e as paisagens, incorporando a fotografia à geografia como instrumento de trabalho.
O conceito de paisagem, para a geografia, não é apenas um belo panorama natural, mas sim um conjunto dos elementos naturais e culturais que podem ser vistos, percebidos e interpretados em uma localidade. E as fotografias são representações que podem registrar aspectos visuais da paisagem, que por si revela um determinado momento de integração entre a sociedade e a natureza, exibindo origem, evolução, permanência e/ou transformação.
E assim temos a paisagem transformada no bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, revelada nas imagens acima. As imagens em questão são do centro do bairro, cortado pela linha férrea, presente ali desde 1878. A primeira imagem, da década de 1960, nos revela um Campo Grande ainda com poucos aspectos de urbanização, saindo do rural, antigo sertão carioca. Do lado esquerdo da estação de trem, a rua Campo Grande. Nota-se quanta diferença no fluxo de automóveis. No lado direito da linha de trem, na primeira imagem, ainda um esboço do que seria o Calçadão de Campo Grande, inaugurado em 1976, com menos movimento na Rua Coronel Agostinho, em contraste com o movimentado espaço dos dias atuais.
Percebe-se também a Rua Viúva Dantas, outrora abrigando o Clube dos Aliados, hoje com seus edifícios e o Passeio Shopping. A Praça Dr. Raul Boaventura, que já foi a Praça Três de Maio, se faz presente nas duas imagens, sendo palco dos Correios, da extinta Casa Dux, dos pontos de ônibus e de táxis, de um antigo bar, na esquina com a já citada rua Coronel Agostinho, onde se conseguia, além de um bom café, informações sobre a região.
A Rua Augusto Vasconcelos, com a Saudosa Silbene, o Cine Palácio (hoje Igreja Universal), a Casa Cruz, o mercado São Braz, entre outros elementos da paisagem.
A Rua Ferreira Borges, com a primeira Igreja Batista de Campo Grande, e ao fundo, o que hoje seria a Rodoviária de Campo Grande. Entre a Ferreira Borges e a Coronel Agostinho, onde hoje é a saída (ou entrada) do túnel, por muito tempo esteve presente a Luzes Shopping, mas que antes, no local, existiu a padaria Adelaide, entre outros pontos importantes do local.
E assim, o verde foi dando lugar ao concreto, com um cenário urbano predominante, a população aumentando, o comércio se consolidando e as mudanças marcadas na passagem do tempo no bairro de Campo Grande, fincadas nas transformações da paisagem.
Fonte consultada sobre o conceito de paisagem: Ciências humanas, 6° ano/obra coletiva - 1° edição - São Paulo: SIEDUC, 2021.
Primeira imagem: Cartão Postal, Edições Ambrosiana;
Segunda imagem: Instagram @altodecg
Agradecimentos especiais a Vinicius, do Instagram Campo Grande do Alto, autor da belíssima fotografia atual de Campo Grande, gentilmente cedida ao meu blog. Gratidão infinita!