terça-feira, 26 de março de 2019

O Mercado São Braz (Brás)


    Atualmente, o bairro de Campo Grande possui uma relevância comercial muito forte, principalmente no seu considerado centro, no calçadão e áreas adjacentes. O Calçadão de Campo Grande foi inaugurado em 1976, sendo um projeto do paisagista Burle Marx, fato este relacionado ao crescente número de firmas comerciais que ocorreu à época, na Rua Coronel Agostinho.
    Porém, antes mesmo da inauguração do calçadão, podemos afirmar que um dos pioneiros do crescimento comercial na região foi o mercado São Braz. Inaugurado em 1963, o mercado, cuja grafia era diferente da atual, no início atuava como uma feira, sem o teto e com chão de terra batida, com praticamente apenas aspecto agrícola, concentrando vendedores de algumas partes do bairro e da Zona Oeste. Mas, com o passar do tempo, o mesmo firmou-se como um dos primeiros no que diz respeito ao comércio de Campo Grande.
    Abaixo, a ata de inauguração do Mercado São Braz. Percebe-se o nome com a grafia original "São Brás".

 Fonte: Roberta do Vale Oliveira

    Em 2011, o Mercado São Braz sofreu um incêndio de grande impacto, quando este teve mais da metade de seus 60 boxes destruídos, ficando cinco meses fechado, reabrindo graças à uma parceria dos lojistas com a prefeitura. 
    Numa das histórias, destaca-se a da imagem de Nossa Senhora Aparecida, permanecendo praticamente intacta, mesmo após o incêndio.
    Com entrada e/ou saída para as ruas Coronel Agostinho e  Augusto de Vasconcelos, praticamente no centro do calçadão de Campo Grande, o Mercado São Braz, que durante uma reforma teve a antiga grafia exposta (São Brás), em seu letreiro, continua sendo uma referência comercial para o bairro, com seus variados comércios e serviços, de loterias, lojas de material esportivo, passando pelo famoso pastel com caldo de cana, entre outros, sendo chamado, assim como seu "irmão" de Madureira, de "Mercadão".

Abaixo, o Mercado ainda com a grafia antiga

Fonte: Roberta do Vale Oliveira


terça-feira, 12 de março de 2019

E o tempo passa...


    As imagens acima fazem parte de um encarte de uma drogaria tradicional do bairro de Campo Grande. A Drogaria do Povo foi inaugurada há praticamente 60 anos, fazendo parte do processo evolutivo do bairro. 
    O encarte remete à uma época em que o quase centenário Clube dos Aliados, tradicional do bairro, localizava-se ainda na Rua Viúva Dantas, centro de Campo Grande, antes de "migrar-se" para o atual endereço, na estrada do Mendanha.
    No local atualmente encontram-se outros serviços, ficando ainda o nome do clube estampado na parte de cima, fazendo lembrar os velhos tempos de um bairro que não para de mudar, para lá e para cá.
    "O tempo passa e nem tudo fica a obra inteira de uma vida..."

terça-feira, 5 de março de 2019

Campo Grande bota o bloco na rua

    Campo Grande, assim como a Zona Oeste, possui uma tradição quando o assunto é carnaval. O bairro possui algumas escolas de samba, como a Sereno e a União de Campo Grande, além de outras que já fizeram parte do bairro, como a Império de Campo Grande. O movimento carnavalesco estende-se para o carnaval de rua, intenso em muitos sub-bairros, como Magali, Vila Nova, entre outros.
    E quando o assunto é bloco de rua, aí o bairro possui uma relevância histórica muito grande. Há bastante décadas, era comum muitos animados blocos desfilarem pelo bairro, atraindo muitos foliões, sozinhos ou em famílias, com o objetivo de "pular" o carnaval.
    Um bloco que marcou época na região foi o Filhos da Pauta. Fundado em 1967, este tinha como característica os homens se fantasiando de mulher, possuindo sempre um enredo, cantado e decorado pelos amantes do carnaval campograndense.




Símbolo do bloco.

    Relatado por Gloria Pontes em um comentário de rede social, um dos enredos do bloco dizia assim: "Se você tem inveja de mim, eu não vou ligar. Eu só quero é me divertir, e nos Filhos da Pauta brincar. Você que diz que o nosso bloco já era, está na espera pra nos passar pra trás. Mas quando ver passar tenha calma, quem sabe sabe, quem não sabe bate palma!". Outro canto marcante, segundo Malu Ravagnani, era: "Brilhou, brilhou, brilhou, Filhos da Pauta chegou, com esse ritmo quente que mexe tanto com a gente..."
    Abaixo, uma carteirinha do bloco e o grupo reunido com vestimentas femininas.


  
    Um outro bloco marcante em Campo Grande foi o Xavantes do Tingui. Segundo José Luciano Silva, um dos enredos conhecidos do bloco cantava assim: "Hoje vou me acabar, no Xavante vou sambar, pra mostrar como é que é, só três dias de folia, vou curtir essa alegria, pois o samba trago no pé. E na avenida multidões aglomeradas, foliões pelas calçadas para ver o Xavante passar. Passa meu querido Xavante e deixa a alegria no lugar...".
    E assim foram tempos de desfiles dos blocos nas ruas do bairro, com estas cheias, tanto de pessoas como de alegrias.

   * Artigo baseado em uma publicação do Face de Malu Ravagnani (agradecimentos especiais a mesma).
  ** Todas as imagens pertencem a José Luciano Silva, gentilmente cedidas para meu blog e devidamente autorizadas pelo mesmo (agradecimentos especiais).
   

segunda-feira, 4 de março de 2019

Nada do que foi será...

   Foto: Arquivo pessoal

    A imagem acima remonta a um tempo de aproximadamente entre as décadas 1960/1970. Trata-se da região do Mendanha, muito antes da chegada do West Shopping, das residências que vieram junto a ele, do crescimento do comércio e dos serviços e do trânsito caótico na localidade. 
    A mesma imagem está inserida em meu segundo livro, "A criação de um subcentro em Campo Grande", o qual aborda justamente as transformações ocorridas na área e adjacências após a chegada do shopping já citado.
    A foto pertence à minha família, a qual traz meu saudoso pai à direita. De uma forma direta ou indireta, acho que consegui eternizá-lo através de meu livro. 
    A imagem aponta uma paisagem ainda meio que rural, com um começo tímido de urbanização, característica de boa parte da Zona Oeste à época, a chamada Zona Rural.
    E assim, já se foi o tempo em que Campo Grande era uma ilha, a milhas e milhas de algum lugar, longe dos grandes centros. E assim o futuro não é mais como era antigamente.

    "Nosso bairro é muito grande e tão pequeno
      tão distante do horizonte do país
      Campo Grande é tão pequeno e tão ingênuo
      Estamos longe demais das capitais".

    Texto adaptado com base na música "Longe demais das capitais", de Humberto Gessinger.
  

domingo, 3 de março de 2019

A tradição dos bate-bolas

    Longe do glamour, das transmissões de TV e das expectativas dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, existe há mais ou menos 80 anos um outro tipo de carnaval, marcante principalmente nos bairros das Zona Norte e Oeste do Rio, além de municípios da Baixada Fluminense: Os bate-bolas.
    Trata-se de uma turma fantasiada com máscaras medonhas, porém com vestidos muito bem elaborados, incluindo cetim, penas coloridas, luvas, entre outros adereços. Sozinhos ou em grupo, belos e assustadores, com objetivo de mostrar suas fantasias ou/e de amedrontar a criançada, os mascarados, como são conhecidos também, começavam a circular pelas ruas antes mesmo do carnaval (hoje nem tanto).
    Devido à proximidade de semelhança da máscara com a de um palhaço, os bate-bolas também são chamados de clóvis, possivelmente uma evolução da palavra inglesa clown, que significa palhaço.
    A origem dessa "turma" pode remontar aos palhaços da Folia de Reis, passando por mitos celtas e  indo também até o período medieval europeu. Alguns se exibem com sombrinhas e leques, mas muitos se apresentavam (falo no passado porque atualmente a frequência é bem menor) geralmente carregando uma bola amarrada à mão, também chamada de bexiga, assustando principalmente as crianças por onde passavam. Batendo a tal bexiga no chão e correndo pra cima da gurizada, estes vinham com um tradicional grito assustador de "Obaaaa!!!", causando um terror na molecada. E as crianças, pra provocar, gritavam, entre outras frases, para os clóvis: "Mascarado pé de pato, comedor de carrapato, se for homem vem aqui, se for bicha fica aí!" (Pelo menos era assim que eu e meus amigos fazíamos). Pronto! Era a senha pra começar a correria e brincadeira, que na maioria era sadia. Cito maioria porque existiam bate-bolas que colocavam vinagre e sal (ou algo parecido) em suas bexigas pra baterem com elas nas crianças, fazendo arder, inclusive.
    Além dos clóvis, "desfilavam" também com mais intensidade durante o carnaval nesses locais outras turmas, como as bruxas, os gorilas, o tradicional "Pai João", que era um personagem maltrapilho, entre outras.
     Assim, de bola de couro de boi a bola de borracha, com sombrinhas em mãos ou só com máscaras, os clóvis foram evoluindo, resistindo e mantendo uma tradição marcante nas periferias e subúrbios do Rio.
    Abaixo, um registro de um bate-bola na Rua Coronel Agostinho, atual Calçadão de Campo Grande, na década de 1960.

Imagem pertencente ao Acervo particular de Nagib Assad Filho