segunda-feira, 24 de junho de 2019

Crônica da Boca do Túnel


    Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro,  bem que poderia ser uma cidade. Aliás, ele tem o título de bairro-cidade. Chamado carinhosamente por alguns "facebucanos" de "meu país", Campo Grande, além de extenso, é o bairro mais populoso da cidade (tem pesquisa que afirma que é o mais populoso do país).
    E por ter muita gente, é comum acontecer na terra que já foi dos laranjais, fatos curiosos. Um desses é corriqueiro na chamada saída do túnel. Estou me referindo à uma passagem subterrânea que liga a Rua Barcelos Domingos à Coronel Agostinho (o conhecido e quase sempre cheio Calçadão de Campo Grande).
    O transeunte que atravessa a rua que separa a chamada "Boca do Túnel" do calçadão confronta com situações, nesse pequeno trecho, no mínimo curiosas. 
     Primeiro você é abordado por trocadores de vans que quase te empurram pra dentro do veículo, pra depois te perguntar pra onde você vai, isto é, se é que você quer ir para algum lugar com eles. Num ambiente amplamente disputado por vendedores, barracas, vai e vem de pessoas, se você ficar parado, pode deixar que será levado pelo fluxo. Sabe aquela imagem comum nos shows de rock, em que a pessoa é carregada pelos braços da galera, pelo alto? Então, dá pra brincar, dizendo que é próximo disso. E tá arriscado se você der um "oi" pra alguém, um vendedor completar "Tim, Vivo e Claro".
     Há também as "corridas" para atravessar a rua, praticadas por um bom número de "atletas" que não conseguem esperar o sinal fechar, e se arriscam na frente dos automóveis, ziguezagueando  pra poder chegar ao outro lado. Alguns, se achando no direito, ainda xingam os motoristas, mesmo com o semáforo indicando verde para os veículos. Aí, para explicar como o local quase não testemunha acidentes, recorremos àquele famoso jargão: "Deus protege".
     Mas voltando às vans, um outro fato é o "dialeto" utilizado por seus condutores. É um tal de "San Crui, San Crui", "Uert Xop", "Cormo", "isdrad du gambim", "bilhê uni", que os passageiros já incorporaram ao seus dicionários particulares. Traduzindo: Santa Cruz,  Santa Cruz; West Shopping; Cosmos; Estrada do Campinho; bilhete único.
     Nesse cenário descontraído, temos um exemplo de diversidades em todos os sentidos, muito parecido com o que acontece nas viagens de trem. Só que aí é outra "passagi". Ou melhor, outra história.
     

sábado, 15 de junho de 2019

Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna... de Campo Grande!

    Para muitos brasileiros com mais de 35 anos, era comum parar nas manhãs de domingo, em frente à TV, para assistir a um dos maiores ídolos de todos os tempos do Brasil: Ayrton Senna da Silva, ou simplesmente, Ayrton Senna. Três vezes campeão de Fórmula 1, o piloto, dono também de corridas memoráveis, faleceu no dia 1° de maio de 1994, justamente fazendo aquilo que amava: disputando um GP.
     Passados 25 anos, Ayrton Senna continua vivo na memória e nos corações dos brasileiros. Uma prova disso está no bairro de Campo Grande. 
      Quem passa próximo à Rua Aricuri, na altura de uma igreja católica, São José Operário, tem a possibilidade de ver um fusca que chama atenção por seu designer.


     O fusca em questão pertence a Cristiano Fernandes da Silva, fã do piloto, e que resolveu fazer uma homenagem, caracterizando o veículo com as marcas de Ayrton Senna. O carro é desenhado de acordo com os detalhes do capacete de Senna.
       Por chamar a atenção, o fusca já participou de exposições no Park shopping, em Campo Grande, no bairro do Recreio, no município de Duque de Caxias, entre outros locais. O lanterneiro, dono do fusca, afirma inclusive que já teve contatos com a irmã de Senna, Viviane Senna, convidando-o para expor seu fusca personalizado, mas que por motivos particulares, não pode comparecer. 
        Cristiano, além de fã de Senna, é fã também de fusca. O mesmo gosta de "transformar" seus fuscas, como torná-los conversíveis, ou com teto rebaixado, deixá -los menores e implementar acessórios, como frigobar e churrasqueira. O próprio fusca em questão, ano 1973, antes de ser personalizado em Ayrton Senna, já possuiu outros "temas", como Garfield, Hot Wheels, Homem-Aranha, entre outros, até se tornar o herói nacional da fórmula 1. Segundo Cristiano, a maioria desses personagens foi feito em função de um de seus filhos, Gabriel. 
         A atual personificação de Senna já tem mais ou menos seis anos, e ainda segundo o dono, não vai mudar mais. 
       E assim, o bairro de Campo Grande mantém viva a história de uma das maiores personalidades nacionais: Ayrton Senna do Brasil!



Fotos: Carlos Eduardo de Souza. (Devidamente autorizadas por Cristiano Fernandes da Silva).

segunda-feira, 10 de junho de 2019

As escolas rurais


    Na atual Zona Oeste do Rio, durante um bom período, existiram em número considerável as chamadas escolas rurais.  Entre 1922 e 1926, iniciou-se uma experiência, na chamada Zona Rural, com esse tipo de educação, adequando o ensino às peculiaridades locais.
     Em A. Carneiro Leão (A Sociedade Rural) constata na página 280:
       "Quando Diretor Geral da Instrução Pública, no Distrito Federal, entre 1922 e 1926, sem legislação que nos autorizasse a agir, nem recursos para empreendermos alguma coisa de amplo, ensaiamos, em algumas escolas da Zona rural carioca, uma educação conforme as necessidades e as carências indiscutíveis do meio."
       Um questionamento a respeito dessas escolas é que os professores eram mandados para o "interior", não estando "por dentro" dos problemas da região, das necessidades dos alunos, entre outros fatores locais.
        A primeira escola rural do então Distrito Federal foi a Escola Rural Alberto Torres, em Santíssimo, à margem da Estrada de Santa Cruz.  No ano de 1948, 26 escolas rurais faziam parte do Distrito Federal, distribuídas por Santíssimo, Campo Grande, Magarça, Guaratiba, Padre Miguel, entre outras localidades.
         Com o progresso da região, e consequentemente a urbanização, foi perdendo-se o sentido da continuidade das mesmas . Atualmente, ainda é possível encontrar uma, localizada na estrada do Magarça, no bairro de Guaratiba: a Escola Rural São Vicente de Paulo. No estabelecimento, há áreas de cultivo, criação de animais e técnicas agrícolas, num ambiente que remonta um pouco a época rural da região, logicamente adaptada aos tempos atuais.
      Abaixo,  e também na imagem acima, um pouco da área da Escola Rural São Vicente de Paulo.




Fotos pertencentes à Escola Rural São Vicente de Paulo. Fotografadas numa exposição na própria escola.

Fonte consultada: Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos. José Nazareth de Souza Fróes e Odaléa Ranauro Enseñat Gelabert. Segunda edição. Rio de Janeiro 2005

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Campo Grande através dos tempos

    Mapa Campo Grande (anos 1960).
     Fonte: Livro Campo Grande, de Moacyr Sreder Bastos. 

    O atual bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já fez parte da então Zona Rural e do chamado Sertão Carioca. Quando começaram os primeiros povoados, já datando século XVI, segundo alguns pesquisadores, a extensão da localidade era muito maior, com a região sendo chamada de "O Campo Grande ", indo muito além dos limites do atual bairro. 
      Após, veio a criação da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, com a data divergindo entre pesquisadores, em que alguns apontam 1673, e outros, 1755 ou 1757. Com o passar do tempo, houve outros desmembramentos feitos na freguesia do Campo Grande, sendo criadas duas novas: a de São Sebastião e Santa Cecília (Bangu) e de Nossa Senhora da Conceição de Realengo. Assim, o então prefeito Amaro Cavalcanti estabeleceu em 1917 os limites do "povoado" de Campo Grande:
          " Pela Estrada da Caroba, a partir da Estrada das Capoeiras, Estrada do Rio do A, - Estrada de Santa Cruz até a Estrada do Juary, por esta estrada até o denominado "Caminho dos Defuntos", por este caminho até a Estrada de Santa Cruz; por esta estrada até a do Monteiro, por esta última até o Kilômetro 2 da Ferro Carril, existente nesta estrada... pelo denominado caminho do Cemitério até a Estrada de Santa Cruz, ainda por esta estrada até a do Rio do A, por esta última estrada até a das Capoeiras, por esta última até o ponto de partida acima mencionado ".
        (Boletim da prefeitura (de julho a dezembro) - Poder Executivo, n°2, pg. 286/287).

         Já nos anos 1960, Campo Grande passa a ter a configuração do mapa acima, limitando -se a leste, com Jacarepaguá e Bangu; ao norte, com o Estado do Rio de Janeiro (Lembrando que à época, Campo Grande pertencia ao Estado da Guanabara); Oeste, com Santa Cruz; e ao sul, com o Ocenano Atlântico.
       Percebe-se algumas localidades que hoje são bairros, à época pertencentes a Campo Grande, o que explica o contato com o oceano, incluindo a Praia da Barra de Guaratiba, Praia do Grumary e a Praia de Pedra de Guaratiba. A foto abaixo constata o fato citado:

  Imagem. Fonte: Livro Campo Grande, de Moacyr Sreder Bastos. 
      
      Com o passar das décadas, Campo Grande seguiu sua evolução, reduzindo seu espaço, apresentando uma nova configuração territorial, mas continuando como um dos principais bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro. 

Fontes consultadas: 
Nossa Senhora do Desterro. A história de uma freguesia do Arcebispado do Rio de Janeiro revista e documentada. José Nazareth de Souza Fróes. 2006.
Campo Grande, Moacyr Sreder Bastos. Segunda edição. Editora Campo Grande Ltda.

       

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Poema sobre Campo Grande


Acima, texto poético sobre o bairro de Campo Grande, de minha autoria, chamado "Campo tempo Grande ", recitado em Paciência, num evento denominado "A banca dá poesia".


segunda-feira, 3 de junho de 2019

As meninas do Campo Grande

    O mês de junho de 2019 foi mais uma data em que tivemos a oportunidade de acompanharmos  a seleção brasileira de futebol, dessa vez na Copa América, aqui no Brasil. Mas foi só isso? Claro que não! Nessa mesma época, tivemos também  a oportunidade de vermos a nossa seleção feminina na Copa do Mundo de futebol, realizada na França.
       É notório a visibilidade que o futebol feminino vem ganhando nas últimas décadas, inclusive no Brasil,  mesmo que por aqui ainda esteja longe do ideal. Mas mudanças já aconteceram, a começar que a prática já foi algo proibido no país, no período de 1941 a 1983.
           No Rio de Janeiro, o campeonato carioca feminino começou a ser disputado justamente em 1983. No decorrer dos anos houve algumas interrupções e organizadores diferentes, mostrando os desafios que a categoria enfrenta até hoje, como pouco patrocínio, falta de visibilidade, entre outros. 
           Porém, um ponto de orgulho da Zona Oeste aparece nessa história: o Campo Grande Atlético Clube. No futebol masculino, o galo da Zona Oeste se glorifica até hoje pelo título da Taça de Prata, conquistado em 1982. Entretanto, pouca gente sabe que o Campusca possui outro orgulho no futebol: o clube foi campeão carioca feminino por 2 vezes. A primeira em 2004, e a segunda em 2008, batendo o Volta Redonda (1x1 e 3x1), sendo vice-campeão em 1996. Além disso, o futebol feminino do Campo Grande levantou a Taça Cidade de Nova Iguaçu em 2012. É com certeza um motivo de honra, de brio para torcedores do Campo Grande e moradores do bairro, mesmo que, infelizmente, para  alguns, as conquistas citadas não sejam relevantes. 

Abaixo, algumas fotos de conquistas do futebol feminino do Campo Grande Atlético Clube. Fotos cedidas gentilmente por uma ex-jogadorora do clube, Val Valserpa. 




      Isso constata que o Campo Grande segue a evolução do empoderamento feminino, resistindo às adversidades, representadas também no futebol.

sábado, 1 de junho de 2019

Em nome da memória de Campo Grande

    Mais de dois anos se passaram e a homenagem a uma das figuras mais importantes do bairro de Campo Grande continua sem reposição: Freire Alemão.
      O vídeo abaixo, gravado pelo Coletivo Ideias no início de 2018, continua querendo respostas das autoridades em busca de uma solução para o fato, que no caso seria uma reposição de um monumento que homenageia o botânico e médico que nasceu e morreu em Campo Grande. 
        Não se trata somente da perda de um monumento, mas sim da identidade e da memória do cidadão campograndense e de toda Zona Oeste do Rio de Janeiro.