terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O glorioso Restaurante Pepe e o saudoso 10 de Maio

Foto. Fonte: face Antigo Campo Grande

    A imagem acima remete a dois pontos muito importantes que já existiram lado a lado na Avenida Cesário de Melo, na altura do bairro de Campo Grande. Um é o lendário Restaurante Pepe, ou Bar do Pepe, muito frequentado por moradores do bairro e adjacências. Segundo algumas informações, Pepe era um garçom de origem espanhola, e que o bar, antes de ter seu nome, possuía o nome de Bar do Castro. Além disso, uma outra curiosidade sobre o restaurante é que este era uma espécie de point de encontro de botafoguenses. Depois de muito marcar a paisagem do bairro de Campo Grande, o famoso Bar do Pepe deixa de existir, dando lugar, atualmente, a uma drogaria.

Local atual, já com a drogaria no lugar do restaurante. Fonte: Carlos Eduardo de Souza

    O outro ponto importante é o clube 10 de Maio. Citado na música "Meu bairro", de Adelino Moreira, o Clube 10 de Maio, ou Sociedade Musical 10 de Maio, surgiu na década de 1940, tendo como um de seus fundadores Francisco Caldeira de Alvarenga, um comerciante que mantinha uma banda musical na Rua Coronel Agostinho, atual Calçadão de Campo Grande, que inclusive era onde ficava sua residência.
    Na década já citada, Francisco reuniu-se com outras pessoas e decidiram comprar um terreno para ser sede da banda. Assim foi criada a Sociedade Musical 10 de Maio. Moradores lembram com nostalgia as atrações do clube, como os bailes, festas e, inclusive, desfile de miss. Atualmente, o clube já não possui as atrações de outros tempos.

Contribuição para o artigo: Deca Serejo.
   

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O brasão de Campo Grande

Acima encontra-se o brasão do bairro de Campo Grande.

    Suas características são as seguintes: Escudo português; um galo de prata, símbolo do guerreiro valente, vigilante e destemido. Além disso, representa a prosperidade avícola da famosa Região Rural; a parte em azul apresenta as riquezas da agricultura do passado: café, cana e laranja; as estrelas destacam duas figuras importantes do bairro: Uma é Manuel de Barcellos Domingos (ou Domingues), um dos primeiros povoadores das terras de Campo Grande, homem ligado diretamente a possível criação da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande; a outra figura ilustre é Francisco Freire Allemão Cisneiro, destacado professor e emérito botânico, nascido e falecido em Campo Grande (1797 - 1874); Na parte mais abaixo do brasão, nas laterais, duas datas importantes: 1673, representando a já citada possível data da criação da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande (alguns historiadores apontam outras datas como sendo da criação da Freguesia de Campo Grande); e a outra, 1964, instalação da XVIII° Região Administrativa.

Texto adaptado por Carlos Eduardo de Souza.
Fonte de pesquisa: Damásio

domingo, 5 de novembro de 2017

Engenhos e escravidão em Campo Grande

Pequena moenda portátil (DEBRET, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil).

    Em sua história, o Brasil passou por alguns chamados "ciclos" econômicos, baseados em produções e/ou extrações de um determinado produto, praticamente centralizando a base econômica do país. Boa parte dos historiadores costumam considerar  três grandes "ciclos" econômicos nacionais: cana-de-açúcar, mineração e café.
    A cana-de-açúcar foi o primeiro grande ciclo (por mais que alguns considerem a exploração do Pau-Brasil como pioneiro), centrada numa produção denominada plantation, possuindo as seguintes características: monocultura (cultivo baseado em um só produto), produção feita em latifúndios, voltada para o mercado externo e utilização de mão de obra escrava.
    Na região do Campo Grande, que se estendia além dos atuais limites do bairro, a produção de cana-de-açúcar também teve seu destaque. Com o desenvolvimento da lavoura canavieira na localidade, aproximadamente entre a segunda metade do século XVII e princípio do século XVIII, houve o crescimento e surgimento de fazendas e engenhos, com a Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande chegando a apresentar, nesse período, 14 engenhos de açúcar, sendo o maior nos limites atuais do bairro.
    No ano de 1797, a composição espacial e populacional do bairro era a seguinte:
    Bairro de Campo Grande, ano 1797 - 14 engenhos; 357 fogos; população: 3.566; população livre: 1.562; população escrava: 2.004. Do total de escravos, 873 pertenciam a grandes proprietários. Com relação ao assunto, em Campo Grande viveu um poderoso Senhor de escravos e grande produtor de açúcar e aguardente, o Sargento-Mor Luiz Vieira Mendanha, sendo o primeiro proprietário da Fazenda do Mendanha.
    É bom observar que fogos, como está citado acima, era o mesmo que família, domicílio, núcleo conjugal, casas de residência, vizinhança ou algo parecido. 
    Já no ano de 1824, a estatística das pessoas residentes na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande era de 530 fogos e 5.200 pessoas. (Fonte: Livro da desobriga, livro n° 15 - Visitador Presbítero Secular Luiz Pereira Duarte; Padre Antônio Roiz do Valle).
   A seguir, uma lista de engenhos/fazendas na localidade de Campo Grande e adjacências.
   
 Engenho do Viegas
        ||          do Mendanha
        ||          da Mata da Paciência
        ||          do Cabuçu
        ||          do Lamarão
        ||          da Piraquara
        ||          de Bangu 
        ||          do Retiro
        ||          de Juary
        ||          de Inhoaíba
        ||          das Capoeiras
        ||          dos Coqueiros
        ||          do Rio da Prata
        ||          do Guandu
        ||          de Palmares
        ||          do Campinho
        ||          do Tingui
    
    Nessa época, existia uma relação entre o Senhor de Engenho e o lavrador, conhecido como partidista. O partidista possuía uma obrigação de levar as canas para o engenho do Senhor, a "fábrica de açúcar".  As famílias partidistas em Campo Grande representavam um número expressivo na população da região, ajudando em muito nas produções e exportações de açúcar, aguardente, feijão, arroz, café, entre outros. Segundo dados, habitavam na região do Campo Grande, à época, cerca de 210 famílias partidistas, com algumas  possuindo escravos, com cerca de 71,43% destas produzindo cana com até 3 escravos.
    É essencial lembrar que o termo "exportação" mencionado refere-se às vendas para outras freguesias, e não necessariamente para outros países.
    O partidista tinha uma relação talvez não tão distante dos meeiros e arrendatários no meio rural brasileiro atual, no qual o primeiro firma um acordo com o dono da terra, em que metade da produção fica com o proprietário, e outra metade com o tal meeiro, parceiro; já o arrendatário é aquele que paga uma espécie de aluguel para produzir em terras de outros proprietários.
    O número de escravos em cada engenho na região do Campo Grande variava, com alguns proprietários de terras possuindo 1 escravo, como Francisco de Almeida e sua mulher Francisca Tereza, no Engenho de Piraquara, enquanto Mariano Carneiro, proprietário do Engenho/Fazenda de Inhoaíba, possuindo 154 escravos. Alguns engenhos também se destacavam com número alto de escravos, como o do Rio da Prata, com 91; o do Cabuçu, com 112, e das Capoeiras, com 88. Além de escravos, esses engenhos/fazendas também eram compostos de pequenos proprietários, agregados, entre outros.
    Alguns ex-escravos tornaram-se proprietários de terra na região, com seus descendentes vindo a ser, consequentemente, proprietários de sítios e fazendas. Abaixo um registro sobre o assunto:

    Livro n°1 do Juiz de Paz de Campo Grande - Arquivo da cidade do Rio de Janeiro, Códice 45.3.4, página 208 v:
    "Doação que faz Pedro de Azevedo, preto forro de Nação e sua mulher Izabel Roza, preta forra de Nação, a Filizardo Alves Pinto - preto, de terras arrendadas na Fazenda do Guandu, no lugar chamado Quitungo, etc..."
    Observa-se ser destacada a questão da cor da pele das pessoas, somente quando eram negras, não ocorrendo quando eram brancas. Também fazia-se referência à condição de ex-escravo.
    No bairro de Inhoaíba, vizinho aos limites atuais do bairro de Campo Grande, existe um monumento a Preto Velho, inaugurado no aniversário dos 70 anos da libertação dos escravos, em 1958. Criado por Miguel Pastor, é considerado o primeiro monumento/homenagem em reconhecimento à simbologia da religião afro-brasileira, feito em espaço público.
     Foto. Fonte: Carlos Eduardo de Souza
Foto. Fonte: site As histórias dos monumentos do Rio de Janeiro.

    A imagem homenageia Paizinho Quincas, Joaquim Manuel da Silva, escravo muito popular na região, devido a sua moral e conduta. Segundo fontes, viveu 109 anos, falecendo em 1963. O bairro de Campo Grande também possui um posto de gasolina, localizado na Estrada do Campinho, conhecido como Posto Preto Velho.

Fontes consultadas:
FRÓES, José Nazareth, GELABERT, Odaléa Ranauro. Rumo ao Campo Grande por trolhas e caminhos. Rio de Janeiro. 2004.
Revista do arquivo geral da cidade do RJ - A Zona Oeste colonial e os mapas de população de 1797.

  


 


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Campo Grande: o bairro mais populoso do Brasil?

Imagem. Fonte: www.chaourbano.com.br

    Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, é um dos  mais prósperos do município na atualidade. Além disso, também é conhecido por ser o mais populoso da cidade, com 336.484 habitantes (2015). Não chega a ser um dos mais povoados, já que aí se trata de densidade demográfica, ou número de habitantes por Km2. 
    Porém, segundo o blog Geofision, em "Mar de gente", o bairro carioca não só é o mais populoso do Rio, mas também do Brasil. É bom lembrar que os bairros pesquisados são os oficiais, criados pelas prefeituras para a administração dos municípios, sendo o IBGE responsável de divulgar a delimitação dos bairros brasileiros.
    Abaixo, a lista dos dez bairros mais populosos do Brasil, segundo o blog Geofision.
    Imagem. Fonte: Blog Geofision
   
    Assim, segundo este levantamento, Campo Grande justifica seu nome, sendo grande em extensão, e inclusive, de população, podendo ser confundido com uma verdadeira cidade, com estruturas ou características (em alguns sentidos) que chegam a ser mais destacadas do que as de algumas capitais de estados do Brasil. Não à toa, em 1968, o bairro recebeu o título de "Cidade honorária", recebido pelo então estado da Guanabara, comprovando, já naquela época, a dimensão (não só física) de destaque do bairro.
   

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Da Rodoviária de Campo Grande se vai ao longe...

Foto. Fonte: onibusemdebate.blogspot.com.br  Edvaldo Gonçalves.

    O bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, praticamente começa a marcar sua trajetória, em termos de transportes, no ano de 1878, com a implantação de uma estação de Ferro D. Pedro II. Logo depois vieram os bondes, puxados a burro, e os elétricos. Mais a frente, os ônibus passam também a circular no bairro. Abaixo, foto de um modelo chamado Lotação.

Foto. Fonte: face antigo Campo Grande

    Com o aumento do fluxo de pessoas no bairro, deslocando-se para vários pontos de Campo Grande, da cidade do Rio e para outros municípios, caracterizando a migração pendular (ida e volta diária de trabalhadores, estudantes e outros), teve-se a necessidade da criação de uma rodoviária.
    Criado em 1979, o Terminal Rodoviário de Campo Grande veio a atender (pelo menos teoricamente) esta necessidade da população do bairro e adjacências. Localizado na Rua Aurélio de Figueiredo, sendo uma estrutura terminal de ônibus urbanos e rodoviários, este proporciona viagens para a própria Zona Oeste, outras regiões da cidade, outros municípios do estado do Rio de Janeiro e inclusive para outro estado.
    Sua estrutura foi reformada em 1988, mas a Rodoviária é alvo constante de reclamações por parte dos moradores, devido à falta de manutenção, lixo, moradores de rua, mau cheiro, entre outras.
    Mesmo assim, Campo Grande pode se orgulhar de possuir uma rodoviária que permite ligações e fluxos para tão longe, sendo um dos poucos locais do Município do Rio com essa possibilidade, já que, com exceção da Rodoviária Novo Rio, considerada a principal da cidade, a Alvorada, na Barra da Tijuca, e outra na Praça Mauá (que são outras conhecidas), o bairro da Zona Oeste consegue ser um dos principais pontos de idas e vindas de milhares de pessoas, todos os dias, de diversos pontos.
   

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O Comendador da Zona Oeste

    "Comendador é aquele que recebe uma condecoração honorífica de ordem militar, política ou eclesiástica, sendo agraciado com um benefício. Assim, o título é oferecido às pessoas que se destacam por ajudar a engrandecer a sociedade, seja por trabalhos ou influências sociais, econômicas e políticas."
    O bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, entre outras figuras ilustres da região, foi testemunha da presença de um grande comendador: o Comendador Sofia. Nascido em Portugal, Serafim Moreira da Silva ficou conhecido como Comendador Serafim Sofia. Comendador porque recebeu esse título do Papa, por ter prestado serviços à igreja; Sofia, por ser devoto de Santa Sofia, devoção esta relacionada à uma promessa que teria feito por escapar de um naufrágio, segundo fontes.

Foto. Fonte: biblioteca cm gondomar. pt

    Inclusive, ele foi o responsável pela construção da igreja de Santa Sofia, em Cosmos, como pagamento da tal promessa.

Foto. Igreja de Santa Sofia em Cosmos há muitas décadas. Fonte: Livro Tricentenário de Campo Grande (Poema histórico) - Serafim Sofia (do Instituto Campograndense de Cultura).
 
    O também escritor e joalheiro Serafim Sofia foi benemérito de Cosmos, sendo samba-enredo de 2008 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Cosmos, escola de samba que, inclusive, ele mesmo ajudou a fundar em 1948. Foi fundador também do Esporte Clube (Sporte Club) Rosita Sofia, conhecido como o time do Comendador, com o estádio recebendo o nome de Serafim Sofia. O nome do clube, provavelmente, foi inspirado na patrona do clube, a sua filha Rosa Moreira Sofia (Rosita, na intimidade). Porém, o clube não possuía uma boa fama, pois era considerado quase um saco de pancadas dos campeonatos do Departamento autônomo da Federação Metropolitana de Futebol, então Distrito Federal (Rio de Janeiro).
 
Foto. Fonte: cacellain.com.br/blog

    Um de seus filhos foi o famoso morador de Campo Grande, Adelino Moreira, autor de vários sucessos interpretados por grandes cantores, como "A volta do boêmio", "Negue", "Fica comigo esta noite" e uma saudando o bairro de Campo Grande e adjacências, "Meu bairro". Nesta última, há uma estrofe em que é citado o clube do comendador: 
    "Campo Grande, Rosita Sofia,
     Cosmos do meu coração..."
    O comendador tem em seu "currículo" vários feitos importantes: em 1945 instituiu a campanha "copo de leite e pão com manteiga", abrangendo as crianças de Cosmos; em 1946, manda construir a Escola Rosita Sofia; também constrói um posto de saúde.

Foto: Escola primária Rosita Sofia, no dia de sua inauguração, na Rua Guarujá, 16 - Cosmos.
Fonte: Livro Tricentenário de Campo Grande - Serafim Sofia

    Como já citado, o também escritor Sofia publicou obras muito interessantes, como o "Tricentenário de Campo Grande (Poema histórico), no qual o Comendador descreve o bairro de Campo Grande, a Zona Oeste, figuras importantes da região, entre outros pontos, com uma poesia elegante de tirar o chapéu.


     Em uma matéria do Jornal dos Sports, de 20 de setembro de 1945, destaca-se a figura do Comendador Serafim Sofia, o qual foi entrevistado em  Cosmos, envolvido em vários empreendimentos na região. Um dos trechos da entrevista destaca: 
    "Diante do que vem sucedendo, precisávamos satisfazer a curiosidade dos nossos leitores e dos amigos e admiradores do Comendador Serafim Sofia(...)Lá chegados (em Cosmos), uma agradável surpresa nos aguardava. Aquele subúrbio atraente, bucólico, que conheceramos há alguns meses atrás, por ocasião do almoço oferecido pelo Comendador Serafim Sofia à crônica esportiva, escrita e falada na cidade(...)Surgindo aos olhos deslumbrados dos visitantes como uma cidade em construção. Tudo se agita febrilmente numa ânsia incontida de progresso..."
    Nesse mesmo trecho, a matéria destaca uma praça "caprichosamente" traçada, uma outra praça, a de esportes do E.C. Rosita Sofia, a igreja de Santa Sofia e um palacete, tudo isso sob a "tutela" do Comendador. Em outro trecho da mesma matéria, o jornal destaca a figura importante do comendador "consagrado industrial e desportista luso-brasileiro, que, no intuito de incentivar a produção industrial nacional, resolveu prestigiar a Frigoríficos Brasil S/A, inscrevendo-se como um de seus incorporadores."
Foto. Fonte: memorias.bn.br

    Uma viação que por muito tempo foi referência na Zona Oeste, extinta em 2010, teve seu nome ligado ao Comendador: a empresa de transporte urbano Santa Sofia. Inaugurada em 1963, tendo um dos sócios-fundadores Agostinho Gonçalves Maia, que se tornaria um dos grandes empresários do ramo, a empresa chegou a ser considerada uma das maiores empresas de ônibus do município do Rio de Janeiro. 
 Foto ônibus Santa Sofia. Fonte: Cia de ônibus - Acervo Sydney Junior

    Em seu livro "Tricentenário de Campo Grande (Poema histórico)", Serafim Sofia descreve que mesmo não sendo o dono nem fundador, o seu envolvimento com a empresa sempre foi forte:
    "De ano a ano, ao sexto dia de dezembro
     eu, que pouco tinha a ver com a jogada, 
    convidava alguns da Empresa, inda me lembro, 
    e era um tal de se almoçar bacalhoada. 
    Da Empresa não cheguei nunca a ser membro, 
    porém, lembro que quando ela foi fundada 
   convidado eu fui pra ser seu Presidente 
   e não quis porque julguei-me incompetente."  Pag. 122

    Ainda sobre o livro, o comendador ressalta sua devoção à Santa Sofia, fazendo relação desta com a empresa de ônibus:
    "Ao fundar-se a Viação Santa Sofia
     fez-se em Cosmos o seu ponto de seção
     bem em frente à nossa igreja, porque havia
     pra fazê-lo um bom motivo - alta razão...
     É que a Santa desse templo era a Sofia
     que o seu nome honrado teve na Viação
    sendo a igreja em tempos idos construída
    por alguem que amou seu nome toda a vida." Pag.120

Um aniversário da Viação Santa Sofia festejado em casa do Comendador Serafim Sofia. Dona Elza escuta ler uma poesia de autoria de Serafim Sofia. Tricentenário de Campo Grande. Pag. 121
    
    Carismático, empreendedor, poeta, entre outras qualidades, Serafim Sofia era querido por muitos, fato comprovado em seu próprio livro, em que, Amy Barbosa Costa, em um gesto de apreciação pelo Comendador, descreve: 
    "Comendador Serafim Sofia, alegria de muitos, amigo de todos, o mundo acabou aprendendo a render homenagens aos homens de valor, tenha pois a certeza, que nossa área, de coração na mão, também sabe reconhecer um dos maiores benfeitores da Zona Oeste,
                             O imortal Comendador Serafim Sofia"
Foto pertencente ao livro já citado.

   

   


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Hino do Galo da Zona Oeste




https://youtu.be/4XOa7Xm6zs4





    Acima está o hino do Campo Grande Atlético Clube, o galo da Zona Oeste, fundado em 13 de junho de 1940. O mascote do clube, o galo, pode ter duas explicações: Uma, por ter sido fundado no dia 13, número do galo no jogo do bicho; a outra, por ter sido o 13° clube a se inscrever na federação, ou a se filiar. Nesse caso, de novo o número 13 do galo.
    O seu hino é dos autores Abel da Silva Jorge e Manoel José Moreira, Segundo Sílvio Alves.

HINO DO CAMPO GRANDE ATLÉTICO CLUBE

    Campo Grande, fabuloso Campo Grande
    Grande também é o teu valor
    Representante da Zona Rural
    Cabal, denodado e empreendedor

    Em tantas outras plagas tens vitórias
    És detentor de títulos e glórias
    Campo Grande, Campo Grande
    Campeão desde os tempos de amador!

    Avante Campo Grande, entre os grandes
    Demonstra tua fibra, teu fulgor
    Para gáudio da torcida
    Que grita, aplaude e vibra
    E idolatra seus atletas com fervor

    Em tantas outras plagas tens vitórias
    És detentor de títulos e glórias
    Campo Grande, Campo Grande
    Campeão desde os tempos de amador!

Fonte do vídeo: YouTube Legendense.









segunda-feira, 17 de julho de 2017

Homenagem a Rocha Faria

Hospital Rocha Faria, ano da inauguração. Fonte: face Antigo Campo Grande

    Localizado próximo ao calçadão de Campo Grande, centro comercial do bairro, entre a Rua Augusto Vasconcelos e a Avenida Cesário de Melo, o Hospital Rocha Faria foi inaugurado em 1940, sob a gestão do então prefeito Henrique Dodsworth.
    O nome do hoje hospital municipalizado é uma homenagem a Benjamin Antônio da Rocha Faria Junior, nascido em 1853, e vindo a falecer em 1936. Graduado em medicina, o Dr. Rocha faria começou clinicando em subúrbios. Ao longo de sua carreira, obteve o cargo de professor adjunto de higiene e história da medicina; mais tarde, nomeado inspetor-geral de higiene pública; foi também presidente do Conselho Municipal de higiene e Assistência Pública; membro titular da Academia Nacional de Medicina, entre outros méritos, cargos e títulos.
  
 Hospital Rocha Faria na década de 1960. Fonte: Jornal Zona Oeste, edição especial, 1998.

     Pode-se afirmar que o Hospital Rocha Faria é um símbolo de Campo Grande e, apesar dos grandes problemas da saúde pública do Rio de Janeiro e do Brasil, este continua sendo uma referência para a população da Zona Oeste.

Fonte utilizada: www.amn.org.br/conteudo

domingo, 9 de julho de 2017

A igreja "avó" e "casamenteira" de Campo Grande

  Foto da antiga capela de Sant'Ana, construída a mais de 100 metros da Estrada do Mendanha, em Capoeiras. Fonte: Fotógrafo Vieira - com adaptações.

    O mês de julho é marcado pelas conhecidas festas julinas, com suas quadrilhas, comidas típicas, entre outras características. Além disso, este mês  também é lembrado por ser o mês dos avós, já que, no dia 26 deste, segundo a tradição católica, comemora-se o dia de Sant'Ana e São Joaquim, pais de Maria, consequentemente, avós de Jesus Cristo.
    O bairro de Campo Grande, entre outras igrejas tradicionais da região, abriga a igreja de Sant'Ana, localizada na Estrada do Mendanha, próxima ao West Shopping. Sua origem remonta ao ano de 1754, quando foi construída a primeira capela de Sant'Ana, em Capoeiras, sendo edificada por João Pereira de Lemos.
 Fotografia da primeira capela de Sant'Ana. Fonte: Arquivo da Paróquia de Sant'Ana.

Esta Paróquia já possuiu uma importante festa de rua, que ocorria próxima ao templo, cujo incentivador foi Manoel Branco, figura ilustre de Campo Grande, que também incentivou outra festa de igreja que ocorria na rua, a Festa da Curva do Matoso, da igreja de Santo Antônio, localizada na Avenida Cesário de Melo. A festa de rua de Sant'Ana é lembrada com nostalgia pelos moradores mais antigos, obrigados a se adaptarem aos novos tempos, ditados pelo progresso da região, marcado pelo aumento do fluxo de automóveis na área da paróquia.
Um fato importante e até curioso desta igreja é o número de casamentos celebrados na Paróquia. Segundo reportagem do jornal Extra, de 2012, a igreja de Sant'Ana é a que mais celebra casamentos na Zona Oeste, com a fama indo para outras regiões da cidade. Ainda segundo mesma reportagem, alguns fatores contribuem para a fama, como a devoção e a tradição, devido ao fato de muitas mães e avós de noivas terem se casado nesta igreja, inclusive ainda como capela.

  

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A e(re)(in)volução de Campo Grande

    A imagem acima foi feita pelo cartunista Elder, durante minha participação em um WorkShop cultural, no qual palestrei sobre o bairro de Campo Grande e meu livro, "A evolução econômica e populacional de Campo Grande". O autor da charge mostra um caos urbano no bairro, com engarrafamentos, tumulto e uma pessoa, no meio da multidão, perguntando: - O que ele quer dizer com evolução populacional?
    Considero a charge fantástica, principalmente por levantar um excelente debate sobre o assunto: O que é exatamente evolução? Evolução é essencialmente algo positivo? Pode-se responder a essas questões com outras perguntas: Desde quando evolução é essencialmente progresso? Desde quando progresso significa algo positivo?
    A respeito do assunto, o livro busca exatamente esta reflexão. A evolução a qual o livro trata é de uma transformação, não necessariamente positiva ou negativa. Trata-se de uma mudança de uma zona rural para uma urbana em expansão, com alguns pontos agrícolas importantes ainda na paisagem.
    É notório a mudança da estrutura econômica, socioespacial e populacional do bairro, considerado o mais populoso do município do Rio de Janeiro, ainda no século XIX, por exemplo, com a chegada de trens e bondes, ligando o bairro a outras áreas, aumentando assim o fluxo populacional. Já no século XX, há a consolidação do comércio (inauguração do calçadão, na Rua Coronel Agostinho, e do Mercado São Braz), a chegada das indústrias, da especulação imobiliária, entre outras. Isso também ocorre em outros bairros da Zona Oeste, que já foi a Zona Rural do Rio, ou Sertão Carioca.
    Com isso, é claro, não fugindo à regra da urbanização, surgiram também os chamados problemas urbanos, como a poluição, a violência, a questão populacional, já que houve uma opção por parte do governo do Rio, principalmente a partir da década de 1960, em orientar o crescimento populacional rumo à Zona Oeste, porém sem serviços na mesma proporção, e os engarrafamentos, constantes em alguns pontos e horários específicos do bairro. A frota de veículos em Campo Grande aumentou de forma assustadora nos últimos anos. Reflexo disso é o crescente número de estacionamentos na região, sendo de todos os tipos e tamanhos, alguns abrigando espaços que já foram referência no bairro, como o que se encontra na Rua Augusto Vasconcelos, onde existiu o tradicional Colégio Belisário dos Santos. É bom lembrar que essa mesma rua já foi conhecida, pelos moradores do bairro, como a rua do jenipapo, devido à grande quantidade desse fruto que se via nessa paisagem. Hoje restam apenas alguns poucos exemplares, entre o vai e vem incessante da população e dos veículos.
    Se isso tudo, aliado às construções de edifícios comerciais, mudando a paisagem campo-grandense, pode ser entendido como progresso, é uma outra questão. O fato é que a ordem no bairro é o progresso, mesmo que este venha acompanhado de evoluções ou involuções, de altos e baixos, de crescimento (ordenado ou desordenado), mas sempre sobressaindo a mudança. Aí, basta cada um ter o seu ponto de vista, ou encarar a ilusão de sua óptica.

sábado, 20 de maio de 2017

Homenagem a Alim Pedro

    A imagem acima é uma homenagem ao prefeito Alim Pedro, que dá nome ao primeiro viaduto de Campo Grande. Localizado na praça de mesmo nome, na subida do viaduto, o monumento, considerado um obelisco, foi criado pelo artista plástico Miguel Pastor.
    Conhecido por suas numerosas obras públicas na cidade do Rio, incluindo bem a Zona Oeste, o artista plástico e escultor Miguel Pastor foi autor de várias outras obras, como o monumento a Preto Velho, em Inhoaíba; o de Arthur Azevedo, em frente ao teatro de mesmo nome; imagem de Santa Sofia, em Inhoaíba; a de Freire Alemão, na praça Francisco Barbosa, bem perto do Viaduto Alim Pedro; painel localizado na Lona Cultural Elza Osborne, entre outras.
    Alim Pedro nasceu em 1907 e graduou-se em engenharia civil, em 1933. Foi eleito prefeito do Rio em 1954, ficando no cargo até 1955. Entre outras obras, em sua administração foi concluída a primeira etapa das obras da adutora do Guandu.
    Abaixo, uma foto do monumento no final da década de 1950, pouco depois de sua inauguração.
Foto. Fonte: Blog as histórias dos monumentos do Rio

terça-feira, 9 de maio de 2017

O Teatro de Arena (Lona Cultural) Elza Osborne

    Tudo começou na década de 1950. Um grupo de estudantes, a maioria do extinto Colégio Belisário dos Santos, teve a ideia de formar um movimento cultural na antiga Zona Rural do Rio de Janeiro. O local específico foi o bairro de Campo Grande. Assim, em 1952, é criado o Teatro Rural do Estudante. O teatro teve como idealizador e fundador, Herculano Leal Carneiro; além do nome citado, destacam-se como co-fundadores do teatro, a atriz e artista plástica Regina Pierini, os atores Carlos Branco e Francisco Nagem, o ator e diretor teatral, Rogério Fróes, entre outros. 
    Porém, um nome que aparece em destaque, quando o assunto é a criação do Teatro Rural do Estudante, é o de Elza Osborne, a que dá nome à atual Lona Cultural do bairro. 
Foto de Elza Osborne. Fonte: Arquivo da Lona Cultural Elza Osborne

    Elza Osborne foi uma das principais engenheiras a integrar o quadro de funcionários da prefeitura do então Distrito Federal. Responsável por obras, Elza Pinho Osborne foi pessoa de confiança do então prefeito Negrão de Lima, designada a cuidar da Zona Rural de Deodoro a Santa Cruz. No tempo em que ficou à frente da função, várias obras foram realizadas, como as paredes de contenção dos canais da Manoel Caldeira de Alvarenga e  Artur Rios; o Teatro Artur Azevedo e adjacências; a praça do Preto Velho; o Teatro de Arena; o Viaduto Prefeito Alim Pedro, a Praça dos Estudantes (homenagem ao movimento cultural dos estudantes que deu origem ao Teatro Rural), entre outras.
Foto Praça dos Estudantes, em frente à atual Lona Cultural Elza Osborne. Segundo algumas fontes, a estátua representa a deusa Vênus; para outras fontes, representa a deusa Atena. Fonte: Carlos Eduardo de Souza
    
    Primeira mulher administradora regional de Campo Grande (1966 a 1971), Elza foi responsável também por pôr fim a um problema na Rua Coronel Agostinho (atual Calçadão de Campo Grande): é que o local em questão era um pântano, alagando toda vez que chovia, com água, lama e outros detritos invadindo o comércio ali localizado. Durante sua gestão, a área foi canalizada, estendendo-se por toda Rua Campo Grande, até o atual canal da Manoel Caldeira de Alvarenga.
    Também dramaturga, com várias peças escritas, Elza Osborne teve uma de suas peças, Zé do Pato, apresentada, sendo vencedora do Festival Nacional do Teatro do Estudante.
    Em 1954, é iniciada as obras da estrutura de um teatro laboratório, ainda não concluída.
   
Foto atual da estrutura do que seria o Teatro Laboratório. Fonte: Carlos Eduardo de Souza.

    Em 1958, no mesmo local, é criado o Teatro de Arena, devido à necessidade do aumento do movimento cultural na região.
    Abaixo, a ata de lançamento da pedra fundamental do Teatro de Arena, com assinaturas do presidente Juscelino Kubitschek, do prefeito Negrão de Lima, de Elza Osborne, entre outros.


    Com o passar do tempo, devido aos problemas com as chuvas, houve o interesse de pôr uma lona no local. Assim, teve-se a ideia, por iniciativa de Ives Macena, administrador do Teatro de Arena Elza Osborne, de aproveitar as tendas utilizadas na ECO 92, importante encontro de cunho ambiental realizado na cidade do Rio, já que estas foram desarmadas e guardadas após o evento.
    Assim, em 1993, nascia a primeira Lona Cultural da cidade do Rio de Janeiro, a Lona Cultural Elza Osborne.
    Abaixo, imagens antigas do Teatro de Arena.
   
Ao fundo, painel do artista plástico e escultor Miguel Pastor, representando aspectos do antigo teatro grego.
   
   
    Fotos: Fonte: Arquivo da Lona Cultural Elza Osborne

    Elza Osborne morre em 1995, aos 93 anos, deixando um grande legado para a Zona Oeste, especialmente, para Campo Grande.

    Colaboração para o artigo: Ives Macena - gestor da Lona Cultural Elza Osborne e idealizador do projeto de lonas culturais no Rio de Janeiro.

domingo, 30 de abril de 2017

A festa do caqui do Rio da Prata

  Foto: Quadro da artista Carmem Paixão. https://carmempaixao.wixsite.com/arte/bio

    Campo Grande, além de ser considerado o bairro mais populoso do Rio de Janeiro, é também um dos mais prósperos do município. Depois de ser conhecido como uma área essencialmente agrícola, passando pelos "ciclos" da cana e do café, sendo também um grande produtor de laranjas, o bairro vem passando por uma transformação socioeconômica e espacial profunda, fazendo com que o local e sua paisagem deixem de ser tipicamente agrícola/rural para urbana em expansão.
    Porém, o bairro ainda apresenta certos "bolsões" agrícolas consideráveis, como no Mendanha, Serrinha e Rio da Prata. Localizada no pé da Serra da Pedra Branca, cortada pela Bacia dos rios Piraquê-Cabuçu, a localidade do Rio da Prata é conhecida por grandes produções agrícolas, rendendo 7 mil toneladas de alimentos como banana, aipim, agrião, batata doce e o caqui. Esses produtos, além de movimentar positivamente a economia da Zona Oeste, são também comercializados em feiras orgânicas de outros bairros da cidade, principalmente Zona Sul.
    E é justamente no Rio da Prata, que possui uma produção agrícola ainda muito marcante, sendo a base econômica de boa parte da população local, marcada também por suas cachoeiras, trilhas, gastronomia e boemia, com seus agitados bares localizados, em sua maioria, à frente da igreja Nossa Senhora das Dores, que ocorre um evento rural de suma importância para Campo Grande e adjacências: a Festa do Caqui.
    Enquanto Paty do Alferes é um município conhecido pela festa do tomate, o bairro de Campo Grande apresenta o caqui como sua atração, considerado o 13° salário dos agricultores do Rio da Prata. O evento, além da venda da fruta citada, oferece também aos seus visitantes feira de alimentos orgânicos, caminhada ecológica, apresentações de música, artesanato, sarau, café da manhã, palestras, exposição de fotografias, entre outras atrações.
    A festa do caqui, que começou em 2014, tem como propósitos a discussão sobre a sustentabilidade, assim como a propagação de cultura e educação, além de valorizar a parte agrícola do bairro, que já foi a marca da região, hoje ditada pela urbanização, mas que ainda contempla seu passado rural.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Meu bairro


 

Música "Meu bairro", de Adelino Moreira, compositor radicado em Campo Grande, dono de vários sucessos como "A volta do boêmio", "Negue" e "Fica comigo esta noite". A música Meu bairro é interpretada pelo saudoso Nelson Gonçalves, exaltando o bairro da Zona Oeste.

MEU BAIRRO

    Meu bairro, meu Campo Grande distante, no meu subúrbio galante,
    berço das canções de amor.
    Meu bairro, da igrejinha do Desterro, que dá perdão para o meu erro,
    erro de ser um sonhador.
    Meu bairro, velha esquina dos pecados, Dez de maio, um aliado,
    onde sorrindo  vivi.
    Meu bairro, da minha estrada do Monteiro, juro que por nenhum dinheiro,
    me afastaria de ti.
    Você não pense mulher, que me convence, a deixar meu bairro
    pelo seu olhar profundo, porque meu bairro também tem mulher bonita,
    que de veludo ou de chita, é a mais linda do mundo.
    Você não pense mulher, que eu deixaria Campo Grande,
    Rosita, Sofia, Cosmos do meu coração, onde eu curti minha primeira dor.
    onde nasceu meu verdadeiro amor,
    e a minha primeira canção.

   

terça-feira, 21 de março de 2017

O curioso caso da igreja de Cosmos

    Durante séculos, o Brasil foi vinculado à igreja católica em várias esferas (políticas, econômicas, sociais) ecoando até os dias atuais. Assim, a história de nosso país possui vários capítulos ligados à igreja de Roma. No Rio de Janeiro existem várias igrejas com histórias importantes, algumas com séculos de idade, que fizeram parte de capítulos importantes dentro da construção do Brasil e de nossa memória.
    Praticamente todo carioca conhece ou já ouviu falar na Igreja da Penha, com seus 382 degraus, localizada no alto da cidade, propiciando uma visão de 360º do Rio. Porém, poucos já devem ter ouvido falar na homônima menos famosa, a Igreja de Nossa Senhora da Penha, no bairro de Cosmos, vizinho ao bairro de Campo Grande, numa região que poderia ser considerada como a "Grande Campo Grande", na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A Penha menos famosa possui uma semelhança com a mais conhecida, pois esta também se localiza no alto de um morro. Porém, o que mais chama a atenção na igreja de Cosmos é o fato de, durante muito tempo, o templo ter se apresentado em ruínas, abandonado, em total procedimento de deterioração. Devido à curiosidade em saber o porquê do estado daquela igreja no alto de um morro e praticamente isolada, surgiram algumas versões que tentaram explicar o motivo do abandono da igreja e de sua história.


Fotos. Fonte: Face um coração suburbano

    Uma das versões, contada por um membro da igreja, afirma que no século passado, as pessoas frequentavam as missas lá em cima, e que com o passar do tempo, após o falecimento do padre, os próprios membros faziam celebrações entre eles. Entretanto, os fundadores foram ficando com idade avançada, com pouca saúde, e não conseguiam mais subir até o local para assistir as celebrações. Além disso, alguns faleceram, não houve renovação de fiéis e com o passar do tempo a igreja foi alvo de vandalismo, ficou abandonada e se deteriorando.
    Porém, há uma outra versão mais macabra, em que conta que um padre responsável foi morto e enterrado no terreno da igreja, e que logo após foi incendiada. Com o passar do tempo ficou abandonada, pois fica no alto de um morro e assim, difícil para os mais idosos chegarem até lá.
    Todavia, a versão oficial da igreja é que consta que no ano de 1917, quando nessa região cultivava-se alguns produtos agrícolas e uma diversificada criação de animais, uma imagem de Nossa Senhora da Penha foi encontrada por dois trabalhadores rurais, filhos de escravos de nomes de Francelina e Adão, ao pé de um coqueiro existente na fazenda do Senhor Délio Guaraná de Barros, bem no alto (cerca de 400 metros) do morro. A imagem foi levada para um casebre de Francelina e Adão, distante do local uns 300 metros. Com o passar dos dias, a imagem, de forma inexplicável, desapareceu do casebre. Os dois procuraram em vão. Logo depois voltaram ao morro onde haviam encontrado a imagem. Para surpresa, a imagem estava lá. Espantados, comunicaram o fato ao dono da terra, que não deu muita importância. Os irmãos tornaram a levar a imagem para casa. Dias depois, outro desaparecimento. Certos de que a encontrariam de novo no alto do morro, foram em direção ao cume e lá estava ela de novo. Então, o senhor Guaraná resolveu levar a imagem para a igreja do Campinho. Dias depois a imagem sumiu, reaparecendo ao pé do coqueiro existente no monte.
    No local foi construída, provisoriamente, uma capela na qual introduziu a imagem de Nossa Senhora da Penha. Com o decorrer do tempo e diante de tantos milagres, foi doado o terreno e no local, erguida a igreja. Em fevereiro de 1972, a imagem foi saqueada e a igreja destruída por vândalos que frequentavam o local para a prática de jogos proibidos, consumo de bebidas alcoólicas e entorpecentes.
    Entretanto, no ano de 2015, a igreja começou  uma fase de restauração do templo e de seu entorno. Membros da igreja contam que durante escavações feitas no terreno, foram encontradas algumas importantes peças, que estavam enterradas, relacionadas às missas que eram celebradas antes da destruição. Abaixo fotos da igreja em sua fase atual, depois de iniciada a restauração.
    O processo de resgate da igreja do morro de Cosmos ainda está em andamento, com celebrações, encontros, entre outros eventos, com a perspectiva de cada vez mais resgatar aquela que já foi um dia conhecida apenas como ruínas, "as ruínas da igreja de Cosmos".
    Abaixo, uma visão panorâmica da Zona Oeste do Rio de Janeiro à frente da Igreja da Penha de Cosmos.

    Na fase de revitalização, a igreja recebe uma iluminação à noite, em seu entorno, que pode ser vista a uma grande distância, inclusive de outros bairros. As imagens abaixo são de um ângulo visto de Campo Grande, numa distância considerável da igreja. Obs: A igreja é o ponto iluminado mais ao alto.

Colaboração para o artigo: Felipe Cardoso.

terça-feira, 14 de março de 2017

É dia de feira

    As feiras livres existem desde a antiguidade, quando estas tinham o objetivo de promover trocas de mercadorias entre as pessoas. A partir do século XI, com o impulso do comércio, estimulado pelo aumento da população, da produção agrícola e das atividades artesanais, mercadores do norte e do sul da Europa atravessavam o continente, com o objetivo de negociar seus produtos nas feiras, que duravam de três a seis semanas, onde negociavam-se mercadorias de todo tipo.
  Imagem representando as feiras antigas. Fonte: História em documentos / imagem e texto

     As mais famosas aconteciam na região de Champagne, na França atual. As feiras já eram realizadas nas cidades, destacando-se grandes feiras internacionais, como em Lyon, na França, Piacenza, na Itália e Medina del Campo, na Espanha. Esta última durava cinquenta dias, reunindo cerca de 2.500 mercadores.     Porém, foi com o advento do capitalismo que esse tipo de comércio conquistou importância econômica.
    Integrante da cultura brasileira, as feiras mantém-se até os dias atuais, mesmo com o desenvolvimento do comércio, com o conforto das compras pela internet, entre outras características do mundo moderno. Possuindo suas peculiaridades, as feiras são palco de circulação de pessoas de todos os tipos, com um variado comércio, que vai de pequenos utensílios, passando por frutas, legumes, peças diversas, entre outros.
    No bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, tem um exemplo de uma feira que já existiu dentro do atual mercado São Braz, no calçadão do bairro. O hoje diversificado "Mercadão" atuava como uma feira, escoando os produtos agrícolas cultivados na região e de outros locais. Porém, devido ao crescimento da área, o mesmo firmou-se como um pioneiro no que diz respeito ao comércio de Campo Grande, perdendo a característica de uma feira tradicional.
    Entretanto, Campo Grande, através de sua história, sempre apresentou outras feiras pelos seus sub-bairros, como a que ocorria na localidade de Vila Nova, tradicionalmente às quintas-feiras. Também destaca-se a feira da Rua Campo Maior, na Avenida Mariana, às terças-feiras.
    Na atualidade, pode-se afirmar que a feira mais conhecida e frequentada do bairro é a que se apresenta aos domingos, nas imediações do Viaduto Alim Pedro, chegando à Estrada do Campinho e à Rua Campo Grande. Atuando como uma feira livre tradicional, esta proporciona aos seus transeuntes todo o tipo de mercadoria, inclusive sendo chamada por alguns de seus vendedores de "shopping ao ar livre".
    Esta feira, antes de se apresentar na atual área já citada, ocorria na Rua Campo Grande; mais tarde se "mudou" para ruas próximas ao Colégio Sarah Kubistchek, até chegar ao ponto de hoje.

Bibliografia utilizada: Rodrigue, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto/Joelza Ester Rodrigue.
São Paulo: FTD, 2001.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O sereno carnaval de Campo Grande

    O carnaval é uma das festas populares mais aguardadas pelo povo brasileiro, especialmente pelos cariocas. Marcado pelas fantasias e desfiles de suas tradicionais escolas de samba, além de vários blocos espalhados pela cidade, o carnaval do Rio de Janeiro é um dos mais tradicionais do Brasil.
    A Zona Oeste da cidade também possui um carnaval expressivo, com suas conhecidas escolas de samba, blocos de rua, entre outros.
    No bairro de Campo Grande não é diferente. A região, desde o século passado, é marcada por um movimento carnavalesco intenso, com blocos de rua, festas em determinados sub-bairros (Magali, Vila Nova, entre outros), e todo um clima típico que envolve os dias de folia na cidade maravilhosa.
    Na questão Escola de Samba, o bairro já teve a Império de Campo Grande, que desfilou na década de 1970. Atualmente, o bairro possui algumas chamadas Escolas de Samba, como a Delírio da Zona Oeste e a Império da Zona Oeste. Porém, a maior representante do bairro é a Sereno de Campo Grande.
    Fundada em 12 de fevereiro de 1996, a escola de samba, ou Grêmio Recreativo Escola de Samba Sereno de Campo Grande, é um dos representantes do bairro da Zona Oeste do Rio no carnaval carioca. Até um tempo atrás, a escola tinha sua sede no sub-bairro de Vila São João, mudando há alguns anos para a Avenida Cesário de Melo. A agremiação, de cores azul e branco, tendo uma coruja como símbolo, surgiu por iniciativa de frequentadores do extinto Bar e Restaurante do Pepe, na já citada Avenida Cesário de Melo. Inconformados com o fato de Campo Grande, o bairro mais populoso do Rio, não ter um representante de força no carnaval carioca, enquanto outros bairros da Zona Oeste, como Bangu, Santa Cruz e Padre Miguel possuírem, houve a iniciativa da criação de uma escola de samba no bairro, já que este já possuíra diversos blocos carnavalescos, como Filhos da Pauta, Sinfonia dos Tamancos e Xavante do Tingui.
    Em 2007, a Sereno de Campo Grande desfilou pela primeira vez na Marquês de Sapucaí, sendo um dos marcos mais importantes de sua história.




Fotos. Fonte: Acervo Chop da Villa