domingo, 19 de setembro de 2021

A tradição das rezadeiras

 

Ilustração: Carmen Paixão

Quando lembro-me de minha infância, uma das primeiras imagens que vem à minha cabeça é de minha avó materna. Católica e rezadeira, minha saudosa avó Júlia - vez ou outra, quando percebia que algo não estava bem, ou quando começava a bocejar sem parar - me chamava e iniciava uma reza com um galho de arruda,  e com um tom de voz bem baixo, quase não entendia o que pronunciava durante a reza. Na maioria das vezes, após a bênção, em poucos minutos o galho se encontrava murcho. Isso significava que eu estava com "olhado", ou "mau olhado".
Assim era a rotina das chamas rezadeiras,  benzedeiras (ou alguma outra denominação próxima), fazendo o trabalho pela fé, numa tradição passada por gerações,  principalmente num tempo e em lugares em que a medicina era escassa. Com o ofício de combater os "males da alma e do corpo", como espinhela caída, quebranto, empacho,  sensações físicas incômodas, entre outros, essas mulheres de muita fé atendiam várias pessoas, com frases como: " Se botaram pela frente, tiro com o Senhor São Vicente. Se botaram por detrás, tiro com o Senhor São Brás", entre outras.
Minha querida avó faleceu em 1996, e com o passar do tempo, devido a alguns fatores, essa maravilhosa tradição foi diminuindo, em alguns lugares quase desaparecendo,  porém deixando um legado e uma espécie de patrimônio imaterial na sociedade que nem o tempo consegue apagar. 

Imagem retirada do gibi "A aventura do jovem Apoema no futuro".

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