segunda-feira, 27 de maio de 2019

Minha velha infância

Foto: Arquivo pessoal 

    A foto acima remete aos anos 1980, rua Taufik Dib, sub bairro Corcundinha, em Campo Grande. A casa em questão é de minha família, na qual residi por 27 anos.
    Percebe-se à época a rua ainda de terra, com o asfalto chegando entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Lembro-me que autoridades visitaram a localidade para organizar o asfaltamento e manilhamento, sendo um "evento" para os moradores.
    Ainda está bem fresco em minha memória algumas brincadeiras em que praticava nesse cenário,  como os jogos de bola de gude e as "corridas de chapinhas", as quais desenhávamos a pista no chão de terra batida e conduzíamos as mesmas com petelecos.
    Após o asfalto, um outro benefício chegou: linhas de ônibus começaram a circular no local, dando enfim novos ares ao sub bairro.
     Uma outra lembrança dessa época de transformação em meu lugar também tem ligação com a chegada do asfalto: como minha casa ficava em uma pequena elevação,  assim que foi implantado o asfalto, o mesmo foi palco de "desfiles" dos tradicionais carrinhos de rolimã, com um barulho provocado pelas rodas que durava boa parte da noite.
       E assim foi um momento de minha infância, que ainda guardo muito vivo em minha memória. E a localidade continua seguindo seu rumo, os ônibus não circulam mais, porém o asfalto continua, sendo palco das idas e vindas, da passagem de um transeunte que está sempre entre nós: o tempo.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Quem foi Manoel Mendes Branco?

    Quem passa próximo à subida do Viaduto Alim Pedro, em Campo Grande, ao olhar para o jardim de mesmo nome, localizado no "pé" do citado viaduto, tem a oportunidade de observar um monumento que homenageia uma figura muito importante da região: Manoel Mendes Branco.
     Filho de José Gonçalves Branco e Joaquina Mendes Branco, Manoel Branco nasceu no dia 14 de setembro de 1898, em Guimarães, Portugal, e faleceu no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, em 23 de novembro de 1960. Chegando ao Brasil, residiu no bairro de São Cristóvão. Mais tarde, foi morar em Campo Grande, trabalhando numa carpintaria e marcenaria na Rua Coronel Agostinho, atual Calçadão de Campo Grande. 
     Manoel Branco abriu seu próprio negócio, uma casa funerária e com artigos religiosos. No mesmo bairro, conheceu Farides José Audi, uma libanesa cujos pais não aprovaram o relacionamento, fazendo, inclusive, a filha ir para a Argentina. Mas, como nos filmes de romance, depois de se comunicarem por cartas durante um certo tempo, o casamento foi contratado, sendo destaque num jornal local, ocorrendo em 25 de outubro de 1924, na Igreja de Nossa Senhora do Desterro. E o casamento saiu depois de uma ajuda providencial de outra figura conhecida no bairro, amiga do casal, que hoje dá nome à uma rua em Campo Grande: Olinda Ellis.
     Manoel Branco se destacou no bairro por tornar-se um dos principais organizadores de festas populares de grande significado,  como a de Santo Antônio, na curva do Matoso; a da igreja de Santana, nas Capoeiras, entre outras, além da questão de fogos de artifícios (pirotécnico). Conseguiu também, para seu compadre Comendador Serafim Sofia, a imagem de Santa Sofia, da qual o comendador era devoto.
      Em sua trajetória, colaborou muito também em outras esferas culturais, como na música, no esporte, na religiosidade (com destaque para a festa de Nossa Senhora de Fátima Peregrina, marcante em Campo Grande), na arte, ajudando inclusive o teatro Rural do Estudante, hoje a Lona Cultural Elza Osborne. 
      Por essas e outras, uma rua no sub bairro de Vila Nova, em Campo Grande, recebe o seu nome, e um busto (depois de reinaugurado) segue imponente na subida do Viaduto, homenageando mais um "filho" querido do bairro.

Foto: Carlos Eduardo de Souza 
Fonte consultada: As histórias dos monumentos do Rio. Blogspot.com.
Artigo baseado em informações fornecidas por Thereza Audi Branco Serra, filha de Manoel Branco. 

terça-feira, 21 de maio de 2019

A Rua Augusto de Vasconcelos

     Localizada no chamado centro de Campo Grande,  a Rua Augusto de Vasconcelos é uma das mais conhecidas do bairro da Zona Oeste. Numa extensão que chega a "cortar" a Avenida Cesário de Melo, nesta rua localizam-se importantes pontos da região, como parte da igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro, o Corpo de bombeiros, o mercado São Braz e o Hospital Rocha Faria, além de já ter "abrigado" a saudosa Silbene, o Cine Palácio (hoje Igreja Universal) e o tradicional colégio Belisário dos Santos (atualmente estacionamento).         O nome da rua é uma homenagem ao senador Augusto Vasconcelos, que nasceu em Campo Grande, no dia 05 de abril de 1853. O mesmo formou-se em medicina, sendo destaque, inclusive, no bairro. Em 1897 foi eleito deputado federal pelo então Distrito Federal, tornando-se senador em 1906, vindo a falecer em 10 de dezembro de 1915.
     Segundo moradores do bairro, o Hospital Rocha Faria, antes de ser inaugurado, foi uma casa do senador Augusto de Vasconcellos. Inclusive, terras atrás do hospital foram loteadas e vendidas por Vasconcelos. Ainda segundo moradores, Augusto de Vasconcellos chegou a morar no prédio da antiga sede do Colégio Belisário dos Santos.
       Assim como todo o bairro, a rua foi se modernizando, perdendo os ares bucólicos e rural, com seus pés de jenipapos e residências sendo substituídos por comércio e serviços, acompanhado pelo frenético ritmo dos automóveis e transeuntes.
      Abaixo, um resquício da época de casas residenciais da rua, misturado com o presente encarnado em uma agência bancária.  

Foto: Carlos Eduardo de Souza. 
Fonte consultada: Abranches, J. governos; Leite Neto, L. Catálogo biográfico. 
         
 

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Catolicismo e espiritismo: vizinhos em Campo Grande

    Quem passa pela Rua Amaral Costa, no centro de Campo Grande, tem a oportunidade de presenciar dois endereços religiosos diferentes, porém bem próximos. De um lado da rua, ocupando um terreno bem extenso, está a Matriz de Campo Grande, a igreja de Nossa Senhora do Desterro, a mesma que é um símbolo histórico do bairro, sendo considerada a "gênese" de Campo Grande. Do outro lado da rua, bem menor mas não menos importante, encontra-se o Centro Espírita Discípulos de Jesus, com a "casa" datando de 1927.
    Os espíritas não consideram o centro espírita uma igreja, mas nem por isso seria errado de afirmarmos  que temos um encontro de dois terrenos "sagrados", separados apenas por uma rua. 
   No local, assim como em outros centros espíritas, são oferecidos cursos, encontros para estudo, palestras, além da evangelização (aulas de espiritismo para as crianças), e a mocidade espírita, as quais é possível, inclusive, o transeunte observar  crianças e jovens cantando num clima muito harmonioso.
    Sendo um dos preceitos dos espíritas o amor, é sempre legal vermos diferentes religiões próximas fisicamente, mas principalmente, próximas na tolerância mútua.

Fotos: Carlos Eduardo de Souza

sábado, 11 de maio de 2019

O "município" de Campo Grande

    O estado da Guanabara, ou cidade-estado da Guanabara, foi uma unidade política que existiu de 1960 a 1975, quando houve a fusão com o antigo estado do Rio de Janeiro.
    O citado estado consistia no atual município do Rio de Janeiro, que até então era Distrito Federal, capital do Brasil. Com a transferência da capital para Brasília, a cidade do Rio transformava-se em estado da Guanabara.
    Abaixo, um mapa ilustrando um projeto para o "novo" estado da Guanabara, sendo considerado o primeiro anteprojeto de constituição do novo estado. Elaborado pelo general Delmiro de Andrade, o trabalho sugeria a Guanabara composta por 8 municípios, entre alguns, São Sebastião, que seria a sede do governo; Copacabana, abrangendo os bairros da Zona Sul; Madureira, envolvendo Realengo, Bangu e bairros próximos, e entre outros, o de número 5, Campo Grande.
    Assim, segundo o projeto, pode-se concluir que Campo Grande, antes de receber o título honorário de bairro-cidade,  em 1968, já era "considerado" um município.

    Fonte "O Jornal" de 3 de janeiro de 1960.
    Artigo baseado em informações do Face Memória Carioca Rio de Janeiro em fotos e vídeos antigos, postado por Celso Frederico Lago.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Do Havaí para Campo Grande

    O Jornal Meia Hora, data de 10/05/2019, publicou uma pequena nota, porém de grande relevância, sobre uma figura com uma história de coragem extrema: São Damião de Molokai. 


    Nascido na Bélgica em 03 de janeiro de 1840, foi batizado como Josef Van Veuster. Padre missionário, foi enviado em missão ao Havaí, onde ajudou a população local e construiu uma igreja.
    O arquipélago foi atacado por uma epidemia de lepra, com as pessoas contaminadas sendo enviadas para ficarem isoladas na ilha de Molokai, no mesmo arquipélago, a qual era uma verdadeira sentença de morte, num cenário que nada perdia para os filmes que retratam proliferação de vírus, ataques de zumbis e afins. 
    Pois foi para exatamente neste local apocalíptico, com doentes embriagados, gemidos e cães comendo cadáveres, que Damião de Molokai solicitou ser enviado. Lá, construiu uma igreja, uma enfermaria, escola e casas.
  Depois de um período, acabou acontecendo a lógica: contraiu lepra, vindo a falecer em 15 de abril de 1889. A festa litúrgica é comemorada no dia 10 de Maio. No Havaí, no dia 15 de abril.
    No bairro de Campo Grande não há igrejas dedicadas a São Damião de Molokai,  porém, no átrio da igreja Matriz do bairro,  Nossa Senhora do Desterro, há figuras dedicadas ao santo, além de mais imagens na sala devocional da Paróquia e na capela ao lado do templo.
    A ligação entre o santo e a Desterro é que ele é o único Santo da congregação dos Sagrados Corações de Jesus, entidade essa que administra a Matriz de Campo Grande, desde 1932.
    Damião foi beatificado em 1995 e canonizado em 2009.

    Imagem que encontra-se no templo de Nossa Senhora do Desterro, próxima à entrada.
    Foto: Carlos Eduardo de Souza. 

    Contribuição para o artigo: Deca Serejo. 
    

quarta-feira, 8 de maio de 2019

"E o futuro não é mais como era antigamente"

    As terras do atual bairro de Campo Grande foram no passado um grande conjunto de fazendas. A Fazenda das Capoeiras, por exemplo, segundo relatórios dos séculos XVIII e XIX, era considerada como uma das mais prósperas do então Sertão carioca. 
    Essas terras foram sendo adquiridas por meio de compras de datas de terra, pertencentes a sesmeiros. Era comum, dentro  dos limites dessas fazendas, como a das Capoeiras, os filhos e outros herdeiros criarem, para cada um, uma fazenda particular. Com isso, dentro dos limites da Fazenda das Capoeiras, existiam outras menores, como a Fazenda de Sant'Anna, Fazenda do Corcundinha, entre outras.
    Assim, aglutinando outras fazendas e sítios administrados por herdeiros e outros familiares, a Fazenda das Capoeiras acabou se transformando em uma verdadeira grande área de domínio ou propriedade em comum, mas com um detalhe: sem os devidos cuidados legais dos proprietários iniciais. Com o passar do tempo, isso acabou gerando grandes questões fundiárias, que se estendem até os dias atuais, principalmente com a especulação imobiliária.
    Abaixo, duas imagens, praticamente do mesmo local, em épocas distintas, retratam a passagem do tempo na região:
    A primeira, a mais antiga, refere-se à antiga venda do "Pau Picado", localizada na Fazenda de Sant'Ana do Tingui, no Largo das Capoeiras. Após ser vendida, foi demolida e erguido em seu lugar um depósito de material de construção. 
    Na segunda foto, atual, o local abriga uma lanchonete que se destaca na produção de quibes e esfirras, o Habib's.

Imagem cedida pela professora Maria José Diogo Moreira, nascida ali, neta do último proprietário do local, Senhor José Martins Diogo Júnior. Fonte da imagem: "Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos", de José Nazareth de Souza Fróes e Odaléa Ranauro Enseñat Gelabert.

 Foto: Carlos Eduardo de Souza.

"O tempo passa e nem tudo fica a obra inteira de uma vida".


sábado, 4 de maio de 2019

Campo Grande também do café

    O bairro de Campo Grande normalmente é lembrado pelo seu áureo período da laranja, em meados do século XX. Porém, é bom destacar que a região, acompanhando o que ocorria no Brasil, presenciou, anteriormente às laranjas, outros "ciclos" econômicos importantes. Um deles foi a cultura do café.
    O café foi introduzido no Brasil por Francisco de Melo Palheta, com o antigo Distrito Federal sendo o primeiro à exportá-lo, no ano de 1791. As primeiras mudas foram trazidas para a cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1760 e 1762, por iniciativa do Desembargador João Alberto Castelo Branco. Poucas vingaram, e, mais tarde, de uma nova safra de mudas, algumas foram oferecidas a D. José Joaquim Justiniano de Mascarenhas Castelo Branco, Bispo dirigente da Diocese entre os anos de 1774 e 1804. 
    Esse mesmo bispo forneceu algumas mudas ao Padre Antônio do Couto da Fonseca, então proprietário da Fazenda do Mendanha. E foi exatamente dessa fazenda que saíram mudas e sementes que acabaram se alastrando pelo Vale do Paraíba, depois de iniciarem em Resende.
    Ainda com relação à fazenda do Mendanha, vale ressaltar que quando as mudas de café chegaram ao local, havia ali uma relevante plantação de anil e toda uma estrutura para seu beneficiamento. O Padre Antônio do Couto da Fonseca simplesmente deixou de lado essa cultura para dedicar-se às plantações de café.
    A Fazenda do Mendanha ficava nas encostas da serra, próxima ao largo do Mendanha, com a antiga casa do local pertencendo posteriormente a Francisco Freire Alemão.
    Abaixo, os fazendeiros com plantações de café em Campo Grande, datando o ano de 1883:

    FAZENDEIROS                                                 LOCALIZAÇÃO
    Maria Teixeira de Souza Alves                          Mendanha
    Manoel Fernandes Barata                                  Inhoaíba
    
    Fonte: Almanaque Laemmert. ano 1883.

    Além de Campo Grande, o cultivo do café passou por fazendas de Catumbi, Inhaúma, Tijuca, Engenho Novo, Méier, Jacarepaguá e Guaratiba, levando ao desflorestamento das encostas, deixando os morros com as consequentes erosões. 
    Mesmo assim, não se pode negar a importância das mudas e plantações de café em Campo Grande, mais tarde, como já foi citado, "levado" para o Vale do Paraíba e também para a baixada Fluminense, sendo base da riqueza e povoamento dessa região.
    Assim como os períodos da cana, da laranja e da avicultura, a cultura do café também é lembrada no brasão de Campo Grande, numa demonstração de quão importante foi o período desse produto para o bairro da Zona Oeste.


Fonte consultada: FRÓES, José Nazareth, GELABERT, Odaléa Ranauro. Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos. Rio de Janeiro. 2005.