domingo, 19 de agosto de 2018

O Triângulo Carioca

    Muitas pessoas já devem ter ouvido falar numa região conhecida como Triângulo Mineiro, que tem Uberaba, Uberlândia, Araxá, Araguari e Ituiutaba como principais cidades. A região é uma das mais ricas de Minas Gerais, com considerável oferta de emprego e investimentos.
    Porém, talvez poucas pessoas conheçam a região denominada Triângulo Carioca. Formada pelos atuais bairros Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba, a área em questão tem sua história atrelada a uma figura muito conhecida na Zona Oeste: Júlio Cesário de Mello.
     
Imagem: Fonte:  Mapa (FREIRE, Olavo, 1911). Retirada do livro 'Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos", de Fróes e Gelabert.

    Nascido em Pernambuco, em 1876, Cesário de Mello chegou ao Rio de Janeiro aos 18 anos, formando-se em medicina em 1905. Em 1906 entra para a vida política. Ao lado de outros políticos, entre eles Manoel Caldeira de Alvarenga, também conhecido na região, Cesário de Mello buscou uma projeção política na região conhecida à época como Triângulo Carioca, composta pelos bairros citados anteriormente.
    O então Sertão Carioca foi palco de atuação do político, que construiu uma clínica em Campo Grande, em 1915. Também controlava os matadouros de Santa Cruz e Campo Grande. Com o controle de abastecimento de carnes verdes (aquelas que são de animais abatidos na véspera do consumo, sem qualquer conservação) do Rio, conseguiu, através do "assistencialismo" e "empreguismo", "conquistar" cerca de 80% do eleitorado dos bairros de Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba, o chamado Triângulo Carioca. 
    Este viveu praticamente da política, pois não cobrava seus serviços médicos, nem em seu consultório, nem em visitas domiciliares que realizava pela região, devido à uma promessa que fizera para mãe, fazendo da medicina um 'sacerdócio", já que esta desejava ver o filho, um padre. Devido a isso tudo, Cesário de Mello ficou conhecido como "Rei do Triângulo".
    Cesário de Mello chegou a ser senador, falecendo em 1952, deixando, aparentemente, uma boa impressão, segundo o jornal local Folha Democrática, que intitulou: "Morreu Júlio Cesário de Mello. Último apóstolo do Sertão Carioca". Outras reportagens e manchetes, como "Sendo pobre, reconhecidamente pobre, talvez por isso mesmo era amado de todos", e "[sua política] era feita na base da estima pessoal, uma espécie de conversa em família, serena e amável", enfatizam a boa imagem de Cesário de Mello. Outro fato que comprova sua popularidade diz respeito a seu velório, reunindo cerca de 5.000 pessoas em sua residência, em Santa Cruz.
    Uma importante avenida que liga Santa Cruz a Campo Grande (na verdade chegando até Senador Vasconcelos), que fez parte da antiga Estrada Real de Santa Cruz, leva o nome dessa grande figura da Zona Oeste, a Avenida Cesário de Melo. Além disso, já existiu, em Campo Grande, um colégio com o nome Cesário de Melo, onde atualmente localiza-se um fórum. Segundo moradores, o colégio em questão "rivalizava" com outros tradicionais do bairro, como Belisário dos Santos e Nossa Senhora do Rosário. Também há uma escola municipal denominada Julio Cesário de Melo, localizada na Estrada de Sepetiba.
Imagem. Fonte: Portal Zona Oeste. Edição: dezembro de 2017.

Fontes consultadas: jornalzo.com.br
                                O velho oeste carioca, volume III. André Luis Mansur


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Campo Grande é Punk

Imagem. SKBPunk Label - Full Album

    O movimento Punk Rock chega ao Brasil praticamente entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980, influenciado por bandas inglesas consideradas gêneses do estilo, como The Clash, Sex Pistols, entre outras, surgidas na metade dos anos 1970. Caracterizado por expressões de contracultura, rebeldia, calças rasgadas e visual "afrontador", esse estilo musical e de comportamento influenciou o movimento Rock Brasil 80, como o Aborto Elétrico, de Renato Russo, que mais tarde daria origem a duas bandas: Legião Urbana e Capital Inicial.
    Com um som mais "cru" e "seco", sem se preocupar com acordes e melodias bem elaboradas, o Punk Rock brasileiro teve representatividade em algumas bandas como Inocentes, Cólera, Garotos Podres, entre outras, e no repertório de outras não consideradas punks, como a música "Polícia", do Titãs, "Veraneio Vascaína", do Capital Inicial (música que fora do Aborto Elétrico), algumas do álbum "Que País é este", do Legião, entre outras.
   Localizada no bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, a tradicional Pista de Skate de Campo Grande é considerada um dos locais que deram início ao movimento Punk Rock no Rio de Janeiro, por volta dos anos 1981 e 1982.
    Em entrevista a um documentário sobre o movimento Punk Rock no Brasil, o antropólogo e pesquisador musical Hermano Vianna cita que a Pista de Skate de Campo Grande teve uma importantíssima participação no tal movimento, já que a praça reunia alguns "meninos" ligados ao estilo musical e ao esporte radical citado. Um deles, conhecido como Lúcio "Punk" Flávio, era baterista da banda de Punk Rock Coquetel Molotov, e se tornou um dos principais skatistas do Brasil, ao lado de Tatu, que também pertenceu à banda. Os dois, inclusive, conquistaram os campeonatos nacional e internacional de skate. A banda chegou a impressionar até o já citado vocalista da Legião Urbana, Renato Russo, que tornou-se amigo dos integrantes do Coquetel Molotov.
    Depois da dissolução da formação original, em 1984, a banda se reestruturou baseada em uma outra banda, chamada Diário de Bordo, do Méier, e por lá se apresentaram por muitas vezes, principalmente num local denominado Dancy Méier. A banda chegou também a se apresentar no famoso Circo Voador.
    Porém, por ser considerada uma banda underground, e por isso ser mal vista pelas gravadoras, o Coquetel Molotov não chegou a gravar LP ou CD, existindo apenas reproduções de fitas cassetes/rolo convertidos para CDs, nas mãos de alguns poucos colecionadores.
    A Pista de Skate de Campo Grande, inaugurada em 1979, já foi considerada uma das mais modernas da América Latina, sendo palco de competições do esporte e apresentações de bandas alternativas. Entretanto, o local passou por um período de abandono, com aparência ruim, com poucos atrativos, sendo revitalizada e reinaugurada em 2016, com aspecto e visual renovados, feira artesanal e participação da população com atividades ambientais no entorno da pista.